Entrevista

Entrevista exclusiva: Vivi Seixas fala sobre sua carreira e o legado de seu pai, Raul

segunda, 13 de julho de 2020

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Muitos apostaram que Vivi Seixas, filha de Kika e Raul Seixas, seguiria os caminhos do pai na trilha do rock'n'roll. Ela, contudo, preferiu uma trajetória mais pessoal e menos óbvia. Entregou-se com paixão e talento à música eletrônica. 

Hoje, é considerada uma das mais importantes DJs do Brasil e tem papel fundamental na preservação da memória e do legado artístico de seu pai. 

Raul, inclusive, não para de ser lembrado nesse período obscuro da pandemia pela semelhança do cenário atual com a música "O dia em que a terra parou" e porque teria completado 75 anos de vida no último dia 28 de junho

Aproveitando a efeméride e o Dia Mundial do Rock, celebrado a 13 de julho, o IMMuB conversou por e-mail com Vivi Seixas sobre o legado de seu pai, um dos maiores roqueiros do Brasil, sua trajetória pessoal e outros assuntos. 

Confira logo abaixo! 

IMMuB: Como a música eletrônica chegou em sua vida? Como foi a decisão de se tornar DJ?

Vivi: Me apaixonei pela música eletrônica num festival na Austrália em 1998. Foi lá que o bichinho me mordeu. Quando voltei ao Brasil comecei a frequentar grandes festivais como Trancendence e Universo Paralello. Também tinha muitos amigos DJ's. Uma noite sonhei que estava tocando e contei para um grande amigo meu. Ele me disse: "você quer aprender? Acho que tem tudo pra dar certo, você tem bom gosto musical, ritmo e carisma". Ele deixou o equipamento dele meses lá em casa até eu comprar o meu próprio. Profissionalmente toco desde 2003 e sou apaixonada pela House Music, um estilo musical que veio da Disco Music. Adoro as linhas de baixo bem marcadas, funkeadas e cheias de groove.


IMMuB: Você já fez releituras de músicas do seu pai, dos Mamonas Assassinas... Existe algum outro nome do rock brasileiro com o qual gostaria de trabalhar? 

Vivi: Adoraria remixar Legião Urbana, sou muito fã do Renato Russo. Um remix de Chico Science também ficaria demais! Quem sabe um dia não pinta essa oportunidade?


IMMuB: Você se tornou uma das DJs mais respeitadas do Brasil. Apesar disso, o machismo é comum nesse meio? Já teve de ouvir comentários desagradáveis? 

Vivi: Não sofri muito com o machismo, não... No meu caso, sofri mais com o fato de ser filha do Raul Seixas e tocar música eletrônica. Os fãs esperavam que eu cantasse rock e tocasse guitarra. Até tive um convite de um diretor de uma gravadora para gravar uma demo e ser cantora, mas isso não estava dentro de mim, não quis seguir por esse caminho. Quis fazer o "meu" e no começo foi bem difícil pra mim. Eu era novinha e ficava muito chateada. As músicas do meu pai me deram muita força nesse momento. Escutava "Por quem os sinos dobram"e "No fundo do quintal da escola" sem parar, são letras que me deram muita força. Hoje as coisas mudaram, fico muito satisfeita com o apoio da maioria dos fãs do papai. Sou feliz por ter seguido meu próprio caminho.


IMMuB: O setor da cultura tem sido um dos mais afetados com a pandemia. Como acha que ficará o cenário dos shows e das festas depois que tudo isso passar? Acredita em uma reinvenção da cena? 

Vivi: Infelizmente o setor de festas e clubs serão os últimos a normalizar. Desde que a pandemia começou não trabalho, mas estou aproveitando esse tempo livre para dar um gás nas novas plataformas oficiais do Raul (Raul Seixas na Web), no Facebook, Instagram e YoTube, que criei com o apoio do Sylvio Passos, fundador do primeiro Fã Clube do papai (Raul Rock Club) e da minha irmã mais velha, Simone. Reabrimos O Baú do Raul e vamos compartilhar seus conteúdos com os fãs. Como eles e papai merecerem! Estou muitíssimo feliz com o sucesso! Também estou pra lançar no meu canal do YouTube uma temporada de um programa de viagens chamado "Viviajando" que foi gravado antes da pandemia.


IMMuB: Seu pai teria completado 75 anos no último dia 28 de junho. Tem algum palpite do que ele estaria aprontando se estivesse vivo? Acha que ele estaria satisfeito com os rumos da música brasileira? 

Vivi: Com certeza ele estaria cantando e tocando rock igual ao Bob Dylan aos 79 anos, Paul McCartney aos 78 e Mick Jagger com 76! Claro que ele iria se manifestar horrorizado e verdadeiramente indignado com o momento político do Brasil. Como ele faz na música "Aluga-se" em 1983, no "Abre-te sésamo", "Mamãe eu não queria" ou a profética "O dia em que a terra parou". Como ele mesmo falou em um texto retirado do livro "O Baú do Raul": "Não acredito em política. Os sistemas políticos já estão deteriorados e os fatos provam isso. Para mim, os velhos esquemas ideológicos, dentro da chamada 'linha lógica', são uma enorme colcha de remendos... "


IMMuB: Como você analisa o papel que Raul Seixas possui hoje dentro da história da música nacional? 

Vivi: Escuto muitas pessoas me dizendo que meu pai mudou a vida deles e muda até hoje. Suas letras são tão profundas mas ao mesmo tempo muito simples de entender, acho que esse é o motivo de tanto sucesso: ele fala com todos.


IMMuB: Que disco de Raul você indicaria a alguém que esteja buscando se aprofundar na obra do seu pai? 

Vivi: Ahhh, sou suspeita, amo todos! Mas meu preferido é o álbum "Raul Seixas" (1983) da gravadora Eldorado, da época em que eu nasci. Tem muitas músicas em parceria com a minha mãe, Kika, e a maioria delas "lado B". Também adoro "Krig -ha Bandolo" (1973), bem Rock'n Roll!!!

Foto: IMMuB/Reprodução. 


IMMuB: Por fim, que músicas têm escutado para manter a paz durante esse período turbulento da quarentena?

Vivi: Sou bem mente aberta para música. Gosto de rock, reggae, forró e eletrônico, claro. Tenho escutado muito as músicas do meu pai e gosto de acordar escutando reggae para começar bem o dia.


Agradecimentos especiais: Warner Music Brasil 


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