Espírito de Caetano por Alcina
Show de lançamento em SP
Não chega a ser o lado B de Caetano Veloso, mas “Espírito de tudo” (Nova Estação/Estúdio Eldorado/Novodisc), o mais recente CD da cantora mineira Maria Alcina - uma tropicalista outsider, desde “Fio maravilha”, em 1972 - garimpa pepitas pouco usuais do compositor baiano.
Como “Rock’n’Raul”, de 2000, (“uma vontade fela-da-puta/ de ser americano/ (...) ter um rancho de éter no Texas/ uma plantation de maconha no Wyoming/ nada de axé, Dodô e Curuzu”), dissonante anti-ode a Raul Seixas.
Ou a ginga de corpo de “A voz do morto” (“eles querem salvar as glórias nacionais, coitados”), farpas disparadas no samba tradicional, em plena “Tropicália”, cujo manifesto, também de 1968, é relido pela emissão trovejante de Alcina: “o monumento não tem porta/ a entrada é uma rua antiga, estreita e torta/ e no joelho uma criança sorridente, feia e morta”.
Produzido por Thiago Marques Luiz, com o grupo Strobo (Rovilson Pascoal, guitarras, Ricardo Prado, teclados, baixo, Arthur Kunz, bateria e programação) o disco tem ainda “A cor amarela”, cujo pique rítmico de carimbó destila libido (“uma menina preta/ de biquíni amarelo/ na frente da onda/ que bunda, que bunda”).
Já “O estrangeiro”, de 1989 (“reconhecer o valor necessário do ato hipócrita/ riscar os índios, nada esperar dos pretos”) e “Fora da ordem”, de 1991 (“aqui tudo parece que era ainda construção/ e já é ruína”) fustigam mazelas do país.
“Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção/ está provado que só é possível filosofar em alemão”, distingue entre galopes eletrônicos, a composição de 1984, que degusta: “gosto de sentir a minha língua/ roçar a língua de Luís de Camões”.
Lançamento neste dia 28, no Sesc Pompéia, em São Paulo.
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