Conversa de MPB

Eu Te Vejo - Emoriô - João Donato

quarta, 13 de janeiro de 2021

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Em um dos episódios do referencial programa MPB Especial (Ensaio) no ano de 1975, João Donato afirma que foi o cantor e compositor Agostinho dos Santos quem o incentivara, poucos anos antes, a cantar suas próprias músicas, daí o lançamento em 1973 do antológico álbum “Quem é quem” produzido por Marcos Valle e, de certa forma, aquele que marcaria a volta de Donato de uma temporada de uma década nos Estados Unidos, agora também como cantor. 

No mesmo ano de 1975, é lançado o álbum “Lugar Comum” que dá continuidade à sua veia de cantor, sem deixar de lado a riqueza de seus arranjos e a companhia do piano, onipresente. Neste disco a sua parceria com Gilberto Gil, principalmente letrando suas músicas, é selada definitivamente com o lançamento de músicas que viraram grandes sucessos que marcam a sua carreira e a música brasileira até hoje.

Dentre as várias obras primas contidas neste disco, o destaque aqui é dado para a música “Emoriô” (Gilberto Gil/João Donato) que ganhou literalmente o mundo a partir de diferentes intérpretes além do próprio Donato. Mas afinal, o que é Emoriô? É interessante pensar que a letra de Emoriô, de certo modo, questiona o seu próprio significado: é uma palavra nagô? uma palavra de amor? um paladar? 

Emoriô, na realidade, não seria nem mesmo uma palavra, mas uma frase em iorubá "E mo ri O", o que significa mesmo Eu Te Vejo, em referência a Oxalá, uma reverência a este Orixá que guarda plena relação com “o sol, a lua e o céu” e está associado à criação do mundo e da própria espécie humana. Na criatividade de Donato e Gil, Emoriô tornou-se então um Ijexá e fez um enorme sucesso na década de 70 como uma das músicas mais ouvidas na Europa com o estouro em 1975 a partir do compacto duplo de Fafá de Belém, lançado em Portugal, tendo em um dos lados "Emoriô" e do outro "Naturalmente" (também do álbum “Lugar Comum”) do próprio João Donato em parceria com Caetano Veloso. O sucesso de Fafá com as duas músicas de Donato foi impressionante e marcou sua carreira como sendo o compacto que a lançou dentro e fora do Brasil, ainda antes dos primeiros long plays de lançamento de sua carreira ("Tamba-tajá" - 1976, "Água" - 1977, "Banho de Cheiro" – 1978).

A gravação original, de Donato no álbum "Lugar Comum" (1975) tem o próprio Donato nos Teclados, o baixista Novelli um dos integrantes do Clube da Esquina, Fredera na guitarra, um dos integrantes da icônica banda "Som Imaginário", bateria Wilson das Neves, Gilberto Gil e uma das mais importantes violonistas na música popular brasileira, principalmente no período da Bossa Nova, Rosinha de Valença em algumas das faixas.

Desde então, Emoriô foi executada e gravada por dezenas de outros intérpretes e que são imprescindíveis de serem conferidos, tais como o próprio Gilberto Gil, Sandra de Sá, Sandra Portella, Duofel e Sérgio Mendes, nesta música que representa dentre tantas e tantas outras de João Donato, até hoje, uma de suas marcas: a congregação de simplicidade com grande sofisticação, características impressionantes de sua obra.

EMORIÔ (João Donato e Gilberto Gil)
Ê-Emoriô
Ê-Emoriô
Emoripaô
Emoriô deve ser
Uma palavra nagô
Uma palavra de amor
Um paladar
Emoriô deve ser
Alguma coisa de lá
O Sol, a Lua, o céu
Pra Oxalá


Leonardo Malcher 

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