Coisas Nossas

Gafanhoto sem bunda

domingo, 23 de junho de 2019

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Naquela tarde o jogo seria diferente. Lá estava agachado um GSB, ou melhor, um “gafanhoto sem bunda”, apelido que davam aos alunos do Ginásio São Bento devido às iniciais que traziam no emblema do colégio. O garoto espreitava com atenção o jogo onde o banqueiro ludibriava os incautos fregueses. Ele tentava entender e aprender como se fazia o truque, acompanhando atentamente os ágeis movimentos do malandro.

Tudo se desenrolava em cima de um caixote com três chapinhas de cerveja e uma bolinha preta. O jogo consistia em adivinhar onde havia sido escondida a bolinha preta. O jogador tinha que escolher embaixo de qual das três chapinhas estaria a bolinha. O banqueiro, depois de colocar a bolinha embaixo de uma das chapinhas, com muita habilidade nas mãos, praticamente um prestidigitador, arrastava as chapinhas de um lado para o outro rapidamente e dizia:

- Uma vai, outra vem, esta dança, a outra gira.... O ilustre cavalheiro não quer adivinhar onde está a bolinha preta?

O banqueiro quase sempre ganhava as apostas. Só perdia por conveniência, para aumentar as apostas e atrair novos jogadores. A bolinha – normalmente – não estava embaixo de nenhuma das três chapinhas de cerveja. O malandro escondia embaixo da unha. Este jogo era proibido e a chegada da polícia era monitorada por um outro comparsa que ficava vigiando na esquina.

O banqueiro movia as chapinhas com rapidez.

- Esta ganha, esta perde. Está aqui ou ali? Quem adivinha? Cinco mil reis. O dobro ou nada.

O garoto entrega o dinheiro.

- Feito. Onde está? Indaga o banqueiro.

O garoto dispara:

- Debaixo da sua unha!

- O que é isso rapaz, tá querendo arrumar confusão?

- Está debaixo da sua unha! Devolve meu dinheiro e mais cinco mil reis!

- Nada disso, o jogo acabou! Some daqui, garoto!

O jovem ficou indignado e voou em cima do banqueiro gritando:

- Ladrão, filho da puta!

Bateu mas também levou uns bons sopapos. Era a primeira surra que levava na vida. Inconformado, o futuro compositor Noel Rosa pega o bonde para sua casa em Vila Isabel de mãos vazias .


Por: João Carino

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