Entrevista

Geraldo Azevedo fala ao IMMuB sobre sua música e os planos futuros

Entrevista por: Catarina Dall'orto

terça, 22 de dezembro de 2020

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Em janeiro de 2020, Geraldo Azevedo, um dos mais significativos nomes da música popular brasileira, completou 75 anos de vida e ganhou destaque no IMMuB como #TemaDoMês

Com os acontecimentos mais recentes, as comemorações, que incluíam uma turnê pelo país ao lado de Chico César, tiveram de ser adiadas. Enquanto isso, Geraldo aguarda em casa, criando e compondo canções para um possível novo álbum de inéditas. 

Foto: Marcelo Ribeiro

É o que ele conta ao IMMuB, dentre outros assuntos, em entrevista realizada via e-mail por Catarina Dall'orto

Confira logo abaixo! 

IMMuB: É possível dizer que as grandes composições tem um “quê” atemporal e que o artista quando cria é senão para gerar algum tipo de reflexão no indivíduo independente de idade, classe ou gênero. Por gerações sua obra permanece causando atravessamentos no sentido de tocar o outro. Conte um pouco sobre como se dá o seu processo de compor. 

Geraldo: Valorizo muito as parcerias. Gosto de compor com outras pessoas, de trocar ideias e produzir em conjunto. Sempre fui assim. O processo de composição é orgânico, não tem um padrão.  É uma arte. A arte de compor, de trabalhar, de dar polimento à música até ver que ela ficou pronta. A inspiração vem das mais variadas direções, muitas vezes trazidas por parceiros. Todo compositor sonha em criar hits, mas não existe fórmula. Acho que os grandes sucessos vêm de um lugar bem fundo no coração.

Foto: Marcelo Ribeiro

IMMuB: Tive a oportunidade de ver um show seu em Niterói (2014), noite belíssima em que voltei para casa com o coração alargado. Suas músicas são entoadas em hino junto ao público, existe uma sintonia que não se vê, mas que acontece entre você e a plateia. Como você explica esse poder que a música tem?

Geraldo: Descobri esse poder ainda menino, quando me encantei pela Bossa Nova. Eu ia pros bailes pra ver as bandas. Ficava hipnotizado por aquilo. Corria pra casa para estudar os acordes, tentando reproduzir o que eu tinha ouvido. A música sempre esteve presente na minha vida. Minha família é muito musical. Mas eu não sonhei em ser músico, queria ser arquiteto. Fui pra Recife pra fazer o vestibular pra Arquitetura, mas fui fisgado pela música. A música me escolheu. Ela mexe com o sentido da gente, adentra pelo nosso corpo, cria lembranças. É uma maravilha.

IMMuB: Sua trajetória artística é marcada por parcerias de sucesso com grandes músicos como Capinan, Naná Vasconcelos, Xangai, Alceu Valença, Elba Ramalho, Zé Ramalho e Geraldo Vandré e tantos outros. Em maio de 2020 estava programada a turnê “VioliVoz” com Chico César, que foi adiada por conta da covid-19. A canção "Nem na rodoviária" é fruto desta parceria e foi criada durante a quarentena. Essa união inédita é uma fusão da representatividade musical de Pernambuco e Paraíba?

Geraldo: Eu diria que é a fusão entre artistas de diferentes gerações, mas que dividem uma mesma origem. Chico é um artista que admiro muito. Acompanho o trabalho dele desde o início. Temos uma afinidade musical muito grande. É um grande prazer estar na presença dele. Uma pena ter adiado esse encontro, mas sigo na esperança de realizá-lo em breve.

Foto: Marcelo Ribeiro

IMMuB: Estamos diante de um momento jamais imaginado, o ano de 2020 nos revelou uma paralisação global e um cenário quase distópico em que todos os dias esperamos pela cura. O setor cultural vem se reinventando diante do distanciamento social. Como você pensa o futuro hoje, há planos para novos projetos?

Geraldo: Eu tenho buscado não pensar muito. Tem sido uma mudança muito grande na minha vida. Nunca havia ficado tanto tempo longe do palco. Há décadas que viajava praticamente toda semana. Agora, tenho estado o tempo todo em casa. Mas sempre com o violão, tocando e estudando. É importante manter a cabeça e as mãos em atividade. Quando tudo isso passar, espero gravar um disco de inéditas. Tenho muitas composições para mostrar. 

IMMuB: A música brasileira é tocada nos quatro cantos do mundo, a nossa produção musical é tão rica quanto vasta. São incontáveis canções, célebres intérpretes, incontáveis compositores e um universo muito particular de gêneros, ritmos e entoadas. Para ti qual a importância da memória musical brasileira?

Geraldo: Importantíssima. Tudo na vida é passageiro, inclusive a própria vida. O que nos resta é a memória, é ela que cria a história. Se bem cuidada, a memória musical é eterna e tem o poder de viajar através do tempo. 

Agradecimento especial: Vivi Drummond

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