Guto Brant lança o single 'Um Sopro', uma reflexão sobre a contemporaneidade
“Quiero el sueño de la revolución", vislumbra o cantautor mineiro Guto Brant no verso que encerra a canção “Um Sopro”, que ele lançou nas plataformas digitais em dezembro. A música propõe uma reflexão sobre a contemporaneidade após um ano difícil. Sempre reféns das mãos invisíveis do mercado mesmo depois de todo o impacto causado pela pandemia e do perturbador desequilíbrio político mundo afora, quem é que não se identifica com a ideia de uma revolução?
“‘Um Sopro’ é uma canção sobre o tempo, sua inexorabilidade e nossa insistência, como geração, em um modo de vida marcado pelo excesso do trabalho e do consumo, repetindo (e acirrando) uma lógica à qual se submeteram as gerações anteriores à nossa”, explica Brant, que lança o clipe da canção em janeiro de 2021, um esquenta para a chegada do seu EP, previsto para fevereiro. O EP sucede "Duplo" (2018), no qual o tempo foi o fio condutor.
Embalada por uma levada de ijexá e por um clima retrô que nos remetem a uma leve brisa soprando numa tarde de outono, a música denuncia a incompatibilidade da vida humana contemporânea com sua natureza essencial — temática recorrente no EP do qual fará parte — e alerta para a necessidade de uma revolução efetiva dos modos de viver.
Foto: Divulgação
“Trampo demais pra poder pagar coisas demais que eu nem sei usar direito / trampo demais / tempo demais / penso demais pra poder falar mas falo demais sem sequer pensar direto”, diz a letra, traduzindo o modus operandi dos tempos que correm. Gravada de forma solitária durante o isolamento social, é resultado de uma constante troca de ideias com o amigo Lucas Luís, responsável pela mixagem da faixa.
“Construída sobre uma espécie de autocrítica, ‘Um Sopro’ aponta para a onipresença do pensamento revolucionário e para sua urgência que emerge, inevitavelmente, de toda parte: do pensamento à fala, da rádio ao Twitter”, complementa Brant. O jovem de 28 anos realizou tudo num processo bem ágil, sem muito espaço para dúvidas.
Brant optou pelo uso de um número reduzido de elementos — a voz, o violão, uma drum machine, um sintetizador e um teclado eletromecânico. Do ponto de vista estético, o arranjo apresenta uma mistura entre velho e o novo, numa tentativa de sobrepor os dois tempos retratados na canção: o seu tempo e o tempo dos seus pais.
O que explicita a tal sobreposição temporal é a gravação que se ouve na introdução da música. Trata-se do fragmento de uma entrevista com João Goulart, na ocasião da renúncia de Jânio Quadros, na qual o repórter, Carlos Spera, pergunta a ele se, com sua posse, a tranquilidade voltaria a ‘reinar na nação brasileira’.
A ausência da resposta do entrevistado no trecho sampleado leva o ouvinte não apenas a responder mentalmente à pergunta, mas a estabelecer o elo entre os dois tempos retratados na canção, constatando a estranha semelhança entre os desafios que se impõem ciclicamente a gerações subsequentes. Já conhecemos tudo o que aconteceu após esse momento histórico, agora resta conhecer a música e não apenas sonhar mas, sobretudo, caminhar para a real revolução.
Ouça agora o single (clique aqui!)
Encaminhado por: Belmira Comunicação
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