Cobertura IMMuB

João Cavalcanti mobiliando a arte do Samba

por Mila Ramos

quarta, 09 de outubro de 2019

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Um sobrado intimista com cara de sala de casa, localizado na Gávea, foi a escolha certa para inaugurar o projeto Lapa-Gávea, grata ideia de Pedro Miranda para ocupar um espaço onde os artistas advindos da Lapa pudessem expressar toda sua liberdade artística e sua ousadia. E essa ocupação acontecerá durante o mês de outubro, no Dumont Arte Bar, reunindo artistas de peso da boa música brasileira: Nilze Carvalho (10), Grupo Semente (17), Ana Costa (24) e Moyseis Marques (31). Fiquem atentos à programação!

Coração transbordando de felicidade e lá estava eu para acompanhar essa estréia! Com seu novo projeto em mãos, João Cavalcanti foi o primeiro convidado e trouxe seu mais recente trabalho, o EP "Samba Mobiliado", lançado em 30 de agosto desse ano.

Abriu a noite com "Queira ou Não Queira", relembrou "Certidão" (já no gogó da galera) e seguiu com "Ponto de Vista". João aproveitou aquele intervalinho obrigatório para afinação dos instrumentos e fez seus agradecimentos: "Samba Mobiliado, que é um EP que a gente gravou recentemente com esse mesmo time, timaço com a direção da incrível, expugnável e irremediável Maria de Médicis, uma equipe maravilhosa e eu aproveito para agradecer o Marcinho, da Som Livre, que implantou junto com a gente esse projeto, nosso parceiraço também, agradecer João Mário da MPB, pela parceria e por apostar nesse Samba Mobiliado nosso".

Após o discurso, de pés descalços, já super à vontade e quase esquecendo de pegar seu tamborim, trouxe "Moleque", segunda música inédita do EP, e a já conhecida "Quando você deixar".

Rendendo uma homenagem à África, cantou "Chicala", que traz a levada do semba de Angola – lançada no disco “Partir” (2015) de Fabiana Cozza e "7" (2017) do Casuarina – composta por João que encerrou a música falando sobre o Brasil ser um país negro: "O Brasil, senhoras e senhores, é um país negro, um país africano e um país negro fora da África, e foi lá que eu tive a epifania de escrever essa canção".


Pausa para um adendo: houve um momento em que João levantou uma questão bem pertinente. "De quem é a canção?", ele perguntou e afirmou: "hoje em dia você não sabe mais de quem é a letra; o Spotify de vez em quando tem lá dizendo". Hoje temos mais de 10 mil pesquisas diárias, é gente pra caramba querendo saber mais sobre os álbuns e os artistas da nossa música. Mas ainda assim, é inegável o fato de que é muito mais comum perguntarem quem é o cantor do que quem foi que escreveu a letra. Essa é uma das razões pelas quais o IMMuB existe; para oferecer um serviço muito útil e interessante: um sistema de busca de informações sobre músicas nacionais. Se você quer saber quem compôs determinada música, o sistema te mostra os compositores, os intérpretes, ficha técnica. Então João, fica a dica: lembra de nós na próxima! (risos)

Voltando para o repertório do show, trouxe a inédita "Nó", parceria com Thiago da Serrinha e, antes de cantar "Bicho Saudade", escrita e interpretada por João e Lenine, contou um pouco sobre como surgiu a música:

"Às vésperas de viajar, eu ia passar 2 meses fora, fiz um poema. Foi um poema meio psicografado, daqueles meio sem saber porque tá querendo dizer aquilo, mas depois eu fiz a análise, vestido de emoção, e ele ficou guardadinho, nunca virou canção. Aí meu pai tava dizendo que faria um disco chamado "Em Trânsito", aí eu mandei esse poema pra ele e meu pai gravou a música. Aí me dei conta de que aquilo que eu tava vivenciando de ficar longe dos meus filhos, eu vivenciei enquanto filho com o meu pai. Então talvez era isso que precisasse, então gravamos juntos essa música".

"Disritmia", originalmente composta e consagrada por Martinho da Vila, fechou a primeiro bloco da noite. Sim, teve espaço para uma breve pausa! Nesse momento deu pra bater um papo, descansar os pés, tomar uma cerveja. Enquanto isso, o anfitrião estava ali trocando uma ideia com seus convidados, seus fãs e na volta deixou sua banda sozinha no palco. Composta por Gabriel Aquino (Violão), Thiago da Serrinha (percussão), João Rafael (Contrabaixo) e Alaan Monteiro (Acordes e Bandolim), a efervescência da Lapa estava na mão deles, dando um verdadeiro show à parte - o ponto alto da noite - e recebeu um caloroso retorno da plateia.


De volta ao palco, deu voz aos sambas já cantados com o Casuarina e convidou a alegria para entrar com o grande sucesso "É isso aí (Isso É Problema Dela)", de Sidney Miller. Casa cheia, platéia quente, ele chama seu primeiro convidado: Pedro Miranda, idealizador e curador artístico do projeto Lapa-Gávea. "Ainda bem que ele me chamou agora na segunda parte porque eu tava muito emocionado, não ia conseguir cantar na primeira parte (risos)", disse ele emocionado e juntos cantaram "Pó Pará" e "Luz do meu Terreiro".


Como segunda convidada, veio Iracema Monteiro (mãe de Alaan, do bandolim). João até se retirou de cena e deu todo o destaque para ela brilhar sozinha no palco. E como brilhou! Cantou magnificamente com todo o seu talento "Começaria tudo outra vez", obra do saudoso Gonzaguinha, regravada pela maravilhosa e ilustre Maria Bethânia. Passado esse momento incrível, juntou-se a ela para cantar "Você passa, Eu acho graça", canção que brilhou na voz da inesquecível Clara Nunes.


Para fechar a noite com chave de ouro, fez todos cantarem em uníssono "Canto de Ossanha" e "Eu quero é botar meu bloco na rua", autorias de ninguém menos que Vinicius de Moraes e Sérgio Sampaio, respectivamente. A noite terminou com a energia lá em cima e boas vibrações de quem teve, assim como eu, a oportunidade de prestigiar esse espetáculo. Sem dúvidas o setlist foi poderoso!

Não é preciso pôr lente, nem óculos de grau pra saber que o samba é o seu lugar, João Cavalcanti. Que o Samba Mobiliado, mobílie todas as casas (trocadilhos à parte), que esteja presente e seja muito bem apreciado com o pé direito, desejando para ti todas as conquistas de que merece.

Agradeço a casa Dumont Arte Bar por ter aberto as portas para o IMMuB, a Vivi e a Miriam do SOMAR Comunicação Integrada e, claro, ao IMMuB por nos permitir fazer parte de mais uma cobertura :)


Fotos de: Mila Ramos


Mila Ramos é fascinada por música e foi em seu trabalho com bandas cover em 2012 que encontrou uma nova paixão: o Music Business. Especializou-se em Marketing e Design Digital pela ESPM-RJ e somou seus conhecimentos ao mundo musical como Produtora Artística. Em 2017, entrou para o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB). Lá chegou ao cargo de Coordenadora de Comunicação e, sob sua gestão, conquistaram o Prêmio Profissionais da Música 2019, e o Programa Aprendiz esteve entre os finalistas de 2021.

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