Música

Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz e gravadora Rocinante lançam 'Moacir de Todos os Santos'

segunda, 30 de maio de 2022

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"Letieres Leite reuniu em Salvador um grupo seleto e eclético de músicos, uns vinte e poucos, negros, mestiços e brancos – todos eles associados às vertentes mais populares ou mais clássico-eruditas da música que se faz na Bahia. Egressos das orquestras de concertos, dos conjuntos de baile, dos terreiros de candomblé, dos clubes musicais cultivadores do jazz e das vanguardas mais recentes do pop internacional, esses músicos se juntaram sob a regência de Letieres - ele, multiartista interessado em promover resgates e impulsionar avanços na música da Bahia e do Brasil". 

Assim o cantor e compositor Gilberto Gil apresenta a gênese da Orkestra Rumpilezz, formada nos idos de 2006, que lança agora 'Moacir de Todos os Santos' (Rocinante), o último álbum gravado sob a batuta do seu fundador. O disco chegará em todas as plataformas digitais e nas principais lojas de LPs do Brasil no dia 19 de maio. Na véspera, às 19h, o canal Arte 1 vai estrear um documentário inédito, com farto material bem editado ao longo de 25 minutos, sobre a gravação do álbum. O filme, com reprises ao longo da semana, foi dirigido por João Atala, Michael Atallah e Sylvio Fraga e traz depoimentos diversos, entre eles do saudoso e genial maestro baiano.

Letieres partiu abruptamente em outubro último, aos 61 anos, quando o álbum estava sendo mixado. O repertório contempla sete dos dez temas de 'Coisas' (1965), estreia fonográfica do maestro, compositor, arranjador e multiinstrumentista pernambucano Moacir Santos (1926-2006). Raul de Souza (1934-2021) toca o seu magnífico trombone na "Coisa nº 4" e Caetano Veloso participa da faixa "Nanã - Coisa nº 5" (parceria de Moacir com Mário Telles), cantando em inglês, segunda língua de Moacir, que morou por décadas na Califórnia.

No texto da contracapa do lançamento, Gil continua: "Inspirado no grande mestre pernambucano Moacir Santos, que o antecedera em algumas décadas nesse mister de estimular a fusão mais abrangente e profunda das linguagens nas músicas afro-americanas (a estadunidense, a cubana e brasileira), Letieres realizou, no breve período que a vida lhe concedeu, um trabalho de grande envergadura que deixa registrado agora neste disco que nos chega às mãos". 

'Moacir de Todos os Santos' é um sonho que começou em 2018, nas gravações de 'O Enigma Lexeu' (Rocinante, 2019). Letieres comentou com Sylvio sobre um show que havia feito com temas de Moacir. Sylvio o convidou para transformar o espetáculo em disco pela sua gravadora e o baiano topou na hora. Foi necessário ampliar o estúdio na Serra Fluminense para oferecer condições ideais à Rumpilezz de gravar. O deck aberto que havia atrás do estúdio ganhou mais três salas, batizadas como Rum, Pi e Lé, os atabaques que nomeiam a orquestra.

Os sócios Sylvio Fraga e Pepê Monnerat não pouparam energia para registrar essas interpretações da melhor forma possível. Microfones adicionais foram alugados para que todos os instrumentos tivessem uma captação em nível máximo. Pepê decidiu botar as três máquinas de fita, de 24 canais, para trabalhar ao mesmo tempo, algo até então inédito em gravações brasileiras. Tudo escrito e ensaiado, agora era a hora de aperfeiçoar a performance dos 22 músicos, - o maestro incluído, embocando a sua flauta em sol - da Rumpilezz. 

"Letieres escreveu os arranjos deste disco em um só mergulho, sem consultar os originais, de tão profundamente que conhecia o 'Coisas', do Moacir. É um disco absolutamente raro em muitos sentidos. A conexão entre maestros negros geniais, a percussão com papel de protagonista numa orquestra, o conhecimento profundo dos ritmos das matrizes africanas permeando a construção dos sopros cosmopolitas, a dança como guia. E todo trabalho de Letieres é intrinsecamente ativista, colocando muitos pingos nos is em relação à importância incontornável que a música dos africanos escravizados tem na música brasileira. Não tenho dúvida que Letieres nos legou, com seu último disco, um dos trabalhos mais importantes do novo século na música brasileira", diz Sylvio Fraga, com os ouvidos no futuro.

'Moacir de Todos os Santos' foi concebido, arranjado e regido por Letieres Leite, dirigido artisticamente por Letieres e Sylvio Fraga, produzido por Letieres, Sylvio e Pepê Monnerat e gravado por Pepê e Edu Costa no Estúdio Rocinante. Uma vez com todos os áudios prontos, o disco foi misturado por Pepê - exceto a faixa "Coisa nº 5", misturada por Michael Brauer - e masterizado por Eric Boulanger (The Bakery).

A Orkestra Rumpilezz é: Luizinho do Jêje (atabaques Rum e Rumpi, agogô e efeitos), Gabi Guedes (atabaques Rum e Rumpi e agogô), Tiago Nunes (timbau, atabaques Rumpi e Lé, agogô e caxixi), Emerson Taquari (pandeiro, surdos, timbau, atabaque Lé e caxixi), Jorge Wallace (surdos, atabaques Rumpi e Lé, agogô e timbau), Ícaro Sá (atabaques Rumpi e Lé e timbau), Kainan do Jêje (atabaqueria), Rowney Scott e Leo Rocha (saxofones tenor e soprano), André Becker e Paulo Andrade (saxofone alto e flauta), Vinícius Freitas (saxofone barítono), Fernando Rocha (tuba), Adaílson Rodrigues (trombone baixo), Rudney Machado (trompete e flugelhorn), Guiga Scott (trompete e flugelhorn), João Teoria (trompete e flugelhorn), Danilo Brito (trompete e flugelhorn), Gilmar Chaves, Hugo Sanbone e Juracy Almeida (trombones). Escutamos a flauta em sol vibrante de Letieres nesta coleção de temas.

"Só um gênio louco como Letieres para se aventurar a reler 'Coisas', mas tenho a impressão que o maestro teria gostado. Leti colocou o dendê da baianidade africana na música de Moacir de uma maneira respeitosa e contemporânea", diz o flautista e saxofonista Rowney Scott, um dos solistas da "Coisa nº 2", primeiro single do novo trabalho. O tema aterrissou nas plataformas de streaming no dia 8 de dezembro de 2021, quando Letieres completaria mais um ano de vida - vida abundante que jorra neste álbum já histórico por tudo o que ele representa.


Encaminhado por Belmira Comunicação


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