Cultura

Livro comemora 100 anos do Cordão da Bola Preta

Por André Diniz e Diogo Cunha

quinta, 14 de novembro de 2019

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É senso comum na literatura dos festejos populares que o Carnaval exerce um papel central no debate da cultura carioca. Com algumas exceções aqui e acolá, esses estudos vêm privilegiando o grande carnaval, o das escolas, do Sambódromo, em detrimento do chamado pequeno carnaval, dos blocos de sujos, dos cordões, dos festejos de rua, com milhões de foliões.

Aí é que entra nossa pequena contribuição à memória do carnaval de rua. Pesquisando em milhares de jornais e dezenas de revistas, organizamos uma homenagem ao cordão mais tradicional do Rio, a agremiação que sintetiza a importância da festa de momo para a cidade, caracterizada por brincantes de todas as origens sociais. O livro “Vem pro Bola, meu bem: crônicas e histórias do Cordão da Bola Preta” é uma junção de textos memorialísticos que não tem a intenção de esgotar o enredo.


A obra traz histórias emblemáticas do Bola e narrativas de escritores que tiveram a experiência de folião ou alguma relação afetiva com o Cordão. Pedro Ernesto Marinho, atual Presidente do Bola, Aldir Blanc, Nei Lopes, Moacyr Luz, Raquel Valença, Marina Iris, Marcelo Moutinho, Luiz Antônio Simas, Heloisa Seixas, Mariana Filgueiras e Emílio Domingos fazem relatos emocionantes, peculiares e elucidativos da centenária trajetória do Bola. O romancista Alberto Mussa escreve a luxuosa apresentação e o cartunista Lan, carioquíssimo em seus traços, ilustra a capa do livro.

Só que o cordão demorou a se fantasiar de Bola. De 1918 até 1933, ele se apresentava nos bailes das Sociedades Carnavalescas (precursores das escolas de samba junto com os populares ranchos) e se recolhia durante o período de carnaval. Reza a história que, numa confusão memorável no Bar Nacional (na Galeria Cruzeiro), no centro do Rio, Álvaro Gomes de Oliveira – o Lord Trinca Espinha –, Francisco Brício Filho – o Chico Brício –, Eugênio Ferreira, João Torres e os três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel e Arquimedes, tiveram uma ideia SENSACIONAL! No grupo havia membros dos clubes dos Democráticos, dos Fenianos e dos Tenentes do Diabo. Mas na época (31 de dezembro de 1918), justiça seja feita, ninguém deu corda, ou a menor bola para a ação de meia dúzia de gatos pingados que entraram para os anais do carnaval ao fundarem o mais longevo cordão do Rio.


Em 1933, o Bola ouviu o chamado das ruas e passou a desfilar pela cidade. A música que faz a alvorada do folião carioca, “Segura a chupeta”, foi criada em 1935 por Vicente de Paiva e Nelson Barbosa, para o Bloco das Chupetas, existente dentro do Cordão da Bola Preta:

Quem não chora, não mama! 
Segura, meu bem, a chupeta
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta
Vem pro Bola, meu bem
Com alegria infernal!
Todos são de coração!
Todos são de coração
(Foliões do carnaval)
(Sensacional!)   

Para além dos consagrados desfiles, o Bola Preta levantou outras bolas, outras bandeiras na folia: banhos de mar à fantasia, futebol à fantasia, Rainha Moma (que até a década de cinquenta era representada por homens vestidos de mulheres). Sua fama espalhou-se pelo Estado: “batizou” tinturaria em Vila Isabel, time de basquete, padaria no Grajaú, café na Penha Circular, cerveja em Petrópolis, uma empresa de transporte (Expresso Bola Preta), uma revista (de Rego Barros e J. Praxedes), um restaurante situado na Praça da República, sinuca em Niterói, uma marca de água sanitária, cavalo no Jockey Club e até mesmo uma escola de samba em Brasília. 


O tempo passou. E no balacobaco de 2012, o Cordão entupiu a Avenida Rio Branco, no centro do Rio, com a marca histórica de mais de 2,5 milhões de pessoas. Até mesmo o mais tímido dos componentes dava pulos de meio metro; batia no peito e gritava “Eu sou o Bola, eu sou o Bola” e dançava ao som da Banda com seu repertório tradicional. Aí está o maior mérito do Bola: ocupar o território central da cidade com personagens de todas as regiões do Rio, realizando uma cruzada civilizacional como poucas instituições podem fazer.


E por acaso você sabe como surgiu a polêmica da Bola Preta? Não? Então, “Vem pro Bola, meu bem!”.

Vem pro Bola, meu bem! Crônicas e histórias do Cordão da Bola Preta
Org. André Diniz e Diogo Cunha
Editora: Numa
Valor: R$ 38,00 

Lançamentos

Roda de samba com convidados a partir das 14h e Banda do Cordão do Bola Preta 
16 de novembro
Entrada franca
Bola Preta I Rua da Consolação 3, Lapa, Centro

Roda de samba com convidados a partir das 14h
20 de novembro
Entrada franca
Estrada Demétrio de Freitas 83, Maceió, Niterói 


Fonte das imagens: Divulgação

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