Cobertura IMMuB

Maria Rita agita o Circo com seu DNA de serpentina

Por: Mila Ramos

quinta, 07 de março de 2019

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Se tem uma coisa que não combina com o Rio de Janeiro, é chuva! Ainda assim, a água torrencial que descia do céu, na última noite de fevereiro, não foi o suficiente para intimidar as mais de 2 mil pessoas que lotaram o "Samba da Maria", no Circo Voador. Com ingressos esgotados, Maria Rita emocionou do início ao fim, abriu as portas para o Carnaval carioca e, mais do que isso, comprovou a força da nossa cultura popular.

Pra fazer vibrar ainda mais o coração dos "Bacanudos" (apelido carinhoso como Maria chama seus fãs), logo que chegamos ao Circo Voador, já demos de cara com aquela cenografia pra fazer vibrar ainda mais o coração! As bandeiras das agremiações do Rio de Janeiro: Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos do Jacarezinho, Unidos da Tijuca, Estácio de Sá, Portela, Grande Rio, Salgueiro, Tradição, Caprichosos de Pilares e Unidos do Viradouro. E os estandartes dos blocos Cordão do Bola Preta e Bangalafumenga.

O povo do lado de dentro não deixou a animação cair, e com toda a razão. Pra segurar os corações ansiosos, a DJ Ju de Paulla mandou muito bem no esquenta, fez a turma cantar, dançar e pular ao som de sambas, ritmos nordestinos e MPB. Nem deu pra sentir as quase 2 horas de espera desde a abertura dos portões.

E ela veio! Linda, vestindo as cores da alegria, mais mansa que uma brisa. Ovacionada aos gritos vibrantes do público, Maria Rita entrou no palco trazendo a calmaria. Ao som de 'Reza' (Amor & Música) numa pegada de ijexá, ela reluziu, trouxe paz e imperou. Mas não demorou muito pra lona inteira sambar e "agradecer o dia que vai chegar". Que, no caso, já havia chegado! O 'Samba da Maria' abriu o mês de março convidando para a folia.


O couro comeu solto a noite inteira. O repertório estava caprichado: 'Meu Lugar', de Arlindo Cruz e Mauro Diniz; trouxe sucessos de outros artistas, cantando 'Do Fundo do Nosso Quintal', interpretada por ela no Sambabook - Jorge Aragão e 'Coração em Desalinho', de Zeca Pagodinho, gravado em Elo, de 2011; Samba Meu foi o álbum em que Maria Rita mergulhou fundo no universo do samba, por isso, 'Maltratar Não É Direito', 'Num Corpo Só', 'O que é o amor' e 'Tá perdoado' não poderiam ser deixadas de fora.

O momento que mais curti de todo o show foi a sequência (quase um medley) das músicas 'Tradição (Vai no Bexiga Pra Ver)', seguida pelo samba-enredo 'Simplesmente Elis - A Fábula de Uma Voz na Transversal do Tempo', caiu para 'Maria Maria', puxada pela voz uníssona do público; puxado na sequência por 'O Mestre-Sala dos Mares''Saudosa Maloca' e 'O Bêbado e A Equilibrista', gravadas pela mãe Elis. Deu pra imaginar? Foi lindo demais! Apenas abrindo um parênteses: no ano de 2015, a escola de samba Vai-Vai trouxe como enredo para o Carnaval de São Paulo, ninguém menos que Elis Regina – levantando neste ano o troféu de campeã. Maria Rita fez belíssima apresentação.

Em muitos momentos ela agradeceu pelo carinho do público, brincou com as fãs fantasiadas ("Que lindas! Estão vestidas de 'eu'"), distribuiu sorrisos e no seu discurso aproveitou para trazer uma reflexão da atual situação vivida no país:

"Hoje em dia, fazer show, botar gente em cima do palco, tirar gente de casa, é um frio na barriga muito maior do que já foi na vida. A gente tá vivendo momentos estranhos e..." – neste momento quem estava no Circo Voador manifestou-se aos gritos de "ELE NÃO!", e Maria brincou, dizendo "De onde eu venho, dizem que a voz do povo é a voz de de Deus, não é?".

E prosseguiu: "Subir num palco é um ato de resistência, mas sair de casa, prestigiar cultura, seja qualquer que for a sua manifestação, também é. Então eu me sinto na obrigação de agradecer, toda a noite eu agradeço, obviamente, mas nessa atual conjuntura, Muitíssimo Obrigada pela presença e pela coragem, pela força, pela voz... com tanta coisa acontecendo pela cidade, com tanta opção, vocês terem escolhido sair das casas de vocês, com tudo o que pode acontecer do lado de fora, pra vir aqui estar com a gente, estar comigo, é de uma generosidade sem tamanho. E por isso, eu sou absoluta e completamente grata a cada um de vocês. Muitíssimo obrigada!"

Ah! E sim, claro que teve o seu triunfal sucesso 'Cara Valente' e o mais recente 'Cutuca' (meu favorito). Encerrou a noite com o astral lá no alto: 'É' 'O Homem Falou' (ambas de Gonzaguinha), 'Vou Festejar' (Jorge Aragão) e, com direito a BIS, 'O Show Tem Que Continuar' (Fundo de Quintal).


Maria Rita está passeando nesse mundão a fora com o 'Samba da Maria' desde 2015 e em seu trabalho tem ficado mais do que evidente que ela é uma das responsáveis por não deixar o samba morrer, o que me deixa orgulhosa por ser brasileira.

Minha gratidão ao Circo Voador por ter aberto esse espaço para o IMMuB, mais uma vez. E minha gratidão à Maria Rita. Sua arte define o que há de melhor na nossa memória musical brasileira. Quem sai aos seus não degenera. Saravá!


Fotos de Mila Ramos
Texto de Mila Ramos/Luciana Nascentes



Mila Ramos é fascinada por música e foi em seu trabalho com bandas cover em 2012 que encontrou uma nova paixão: o Music Business. Especializou-se em Marketing e Design Digital pela ESPM-RJ e somou seus conhecimentos ao mundo musical como Produtora Artística. Em 2017, entrou para o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB). Lá chegou ao cargo de Coordenadora de Comunicação e, sob sua gestão, conquistaram o Prêmio Profissionais da Música 2019, e o Programa Aprendiz esteve entre os finalistas de 2021.

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