Tema do Mês

Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço, Dona Ivone?

por Caio Andrade

quarta, 13 de abril de 2022

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A Sambista Ivone Lara

Dona Ivone Lara, estrela máxima do samba carioca, completa 100 anos em 2022. Nascida Yvonne Lara da Costa em 13 de abril de 1922, se destacou como uma das grandes sambistas do país e influenciou posteriormente uma geração inteira de mulheres dentro do estilo. Dentre seus muitos sucessos, “Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço” vira o título do tema do mês do IMMuB em abril, mostrando que nunca iremos esquecer uma de nossas maiores cantoras e compositoras.

Apesar de estar ligada à música desde pequena e com 12 anos apenas ter composto seu primeiro samba (“Tiê”, quando ganhou de presente um tiê-sangue), Dona Ivone fez história mesmo ao se tornar a primeira mulher a integrar a ala dos compositores de uma escola de samba. Na ocasião, assinou ao lado de Bacalhau e Silas de Oliveira o samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”, tema do Império Serrano para o carnaval de 1965. Aliás, ela é uma das figuras históricas da agremiação ao lado de outros bambas como o próprio Silas, Mano Décio da Viola, Aniceto do Império e Roberto Ribeiro. Ela já participava compondo sambas para a escola há quase 20 anos.

Ainda nos anos 1960, ela adotou o nome artístico de Dona Ivone Lara através do tratamento respeitoso dado pelo radialista Adelzon Alves. Nem precisamos dizer que deu muito certo, não é mesmo?

Fonte: Cedoc/TV Globo.

Na década seguinte, a carreira da sambista se consolidou de vez na cena musical brasileira. Vieram os primeiros discos, prêmios, participações em programas de TV e inúmeras composições regravadas. Em 1970, gravou seu primeiro LP participando de “Sargentelli e o Sambão”, pela Copacabana, cantando em duas faixas. Fez outras aparições nos anos seguintes nos discos “Quem Samba Fica? Fica” (1974) e “História das Escolas de Samba - Império Serrano” (1974), além da participação em “Eduardo Gudin” (1975) e do dueto ao lado de Candeia em “Quatro Grandes do Samba” (1977).

O primeiro álbum solo só viria em 1978 com “Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz”, mostrando todo talento de uma sambista que passou a ser referência para figuras posteriores como Leci Brandão, Beth Carvalho e Alcione. Nesse mesmo ano, ganhou o Prêmio Sharp de “Melhor Música” com a gravação de “Sonho Meu” feita por Maria Bethânia e Gal Costa no álbum “Álibi”.

“Sonho Meu”, inclusive, é uma das muitas parcerias de Dona Ivone Lara com Délcio Carvalho, com quem compôs outros sucessos como “Acreditar”, “Liberdade”, “Nasci Pra Sonhar e Cantar” e “Alvorecer”. Outros parceiros, dos mais ao menos famosos, também são: Jorge Aragão (“Tendência” e “Enredo do Meu Samba”), Hermínio Bello de Carvalho (“Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço”), Bruno Castro (“Nas Escritas da Vida”), Paulo César Pinheiro (“Bodas de Ouro”) e até Caetano Veloso (“Força da Imaginação”).

Primeiros álbuns de Dona Ivone Lara.

Ativa até os últimos anos, gravou seu primeiro DVD em 2009, “Canto de Rainha”, com direção musical de Paulão Sete Cordas. No ano seguinte, vale o destaque também para “Nas Escritas da Vida”, apenas com canções feitas com o novo parceiro Bruno Castro. Em 2012, foi tema do Império Serrano para o carnaval daquele ano com o samba “Dona Ivone Lara: o Enredo do Meu Samba”, composto por Arlindo Cruz, Tico do Império e Arlindo Neto.


A Enfermeira Ivone Lara

Uma parte da vida de Dona Ivone é bastante interessante: a sambista foi, durante muitos anos, enfermeira e assistente social especializada em Terapia Ocupacional. Dedicou boa parte de sua vida à saúde pública e luta antimanicomial, tendo trabalhado com ninguém menos que a doutora Nise da Silveira no Serviço Nacional de Doenças Mentais e na Colônia Juliano Moreira. Mais uma atitude um tanto quanto nobre vinda da realeza do nosso samba! 

No filme “Nise: o Coração da Loucura”, lançado em 2015, a enfermeira Ivone é interpretada pela atriz Roberta Rodrigues. A sambista se aposentou do hospital no fim dos anos 1970 e passou a se dedicar exclusivamente à carreira artística.

Dona Ivone Lara se apresenta no evento Tim Festival, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo, em outubro de 2005 — Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão Conteúdo/Arquivo.

Todo sambista que se preze conhece no mínimo uma dúzia de canções de Dona Ivone Lara. Além das canções já citadas, “Alguém Me Avisou”, “Sorriso Negro” e “Agradeço a Deus” são outros grandes sucessos cantados até os dias de hoje. A obra de Dona Ivone é uma relíquia que jamais será apagada. Viva o samba, viva o Império Serrano, viva Dona Ivone Lara!



Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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