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Monsueto e o tempo da delicadeza

sábado, 24 de novembro de 2018

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Contam que o ator e compositor Monsueto, autor dos clássicos "Mora na filosofia" (“Eu vou lhe dar a decisão:/Botei na balança, você não pesou/Botei na peneira, você não passou”) e "A fonte secou" (“Eu não sou água, para me tratares assim/Só na hora da sede é que procuras por mim”) foi procurar o humorista, comediante e escritor Chico Anysio em busca de uma ajudinha. A carreira musical não ia bem e ele queria uma oportunidade na TV.

– Chico, preciso de uma força aí. Estou há um tempão sem gravar nem fazer shows. Numa dureza de dar dó. Veja o que você pode fazer por mim.

Delicado e generoso, o mestre soberano do humor brasileiro, que sempre teve fama de não medir esforços para ajudar os amigos em dificuldades, logo criou um personagem para ser interpretado por Monsueto em seu humorístico semanal. Conseguiu aprovar o personagem junto à direção da casa e o procurou:

– Agora é só ir lá, meu chapa, e negociar o salário para a gente começar a gravar.

Monsueto ficou eufórico:

– E quanto eu peço, Chico? Quanto eu peço de grana?

Chico Anysio disse que não interferia nas negociações salariais entre os artistas e a empresa, que ele fosse lá e visse o quanto poderia conseguir. Imediatamente Monsueto fez uma pesquisa junto a vários colegas, ouvindo de todos a “informação” de que aquela emissora pagava rios de dinheiro. Já foi falar com o responsável pela parte financeira imbuído desse espírito, quando se deu o seguinte diálogo:

– O senhor está pensando em pedir quanto de salário? – perguntou o executivo.

– Oitocentos! – respondeu Monsueto, na bucha.

Depois de folhear alguns papéis e fazer inúmeros cálculos, o representante da grana informou:

– O máximo a que podemos chegar é a 20.

E o grande Monsueto, sem pestanejar:

– Topo!

Grande e admirável figura, que faria 94 anos neste 2018 (dia 4 de novembro), Monsueto Campos de Menezes era um negão (sim, em sua época essa denominação não era pecado) sorridente e bonito, da estirpe de Geraldo Pereira, Blecaute, Nadinho da Ilha, Almir Guineto. Tinha uma voz linda e suingue de matar de inveja os maiores intérpretes.  O primeiro sucesso como compositor foi "Me deixa em paz", gravado por Linda Batista. Foi ainda ator de cinema, show-man, cômico de televisão e diretor de bateria e harmonia de várias escolas de samba. Compôs umas 150 músicas e foi gravado por grandes nomes da MPB. 

Viveu e morou na filosofia, na melhor delas. 


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