Jogada de Música

Música e futebol tabelando no Museu da Pelada

sexta, 01 de novembro de 2019

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Convocado por Sérgio Pugliese para ser uma espécie de correspondente do Museu da Pelada em Florianópolis e cidades próximas, tive a felicidade de ver música e futebol tabelarem com grande entrosamento, logo na estreia. Eu e o cinegrafista Fernando Gustav, levados pelo meu amigo de longa data Paulinho Menezes, fomos a Palhoça, município da Região Metropolitana da capital catarinense, para entrevistar o ex-lateral uruguaio Sérgio Ramírez, que atuou entre outros por Flamengo, Independiente (Argentina), Sport Recife e a seleção de seu país. Famoso pela corrida que deu em Rivellino, num Brasil x Uruguai que terminou em pancadaria  em 1976, no Maracanã, Ramírez se revelou um ótimo cantor e violonista.

Veja a entrevista clicando AQUI.

Logo que chegamos à sua casa, percebi que ia dar samba. A sala, adornada por vários violões pendurados na parede e em cima do sofá, cavaquinho e teclado, já me deu a ideia de falar com ele sobre o projeto Jogada de Música e perguntá-lo depois, já na gravação da entrevista, sobre as rodas de samba na casa do Maestro Júnior, que aliás foi quem sugeriu a pauta. Antes mesmo de dar aquela canja para o pessoal do Museu da Pelada, Ramírez contou uma deliciosa história que é um dos pilares da Jogada: o nascimento de uma composição. No caso, ele revelou como Jorge Ben, na época ainda sem o “jor”, criou “Cadê o penalty?”, que foi sucesso também com o Skank muitos anos depois.

    Segundo Ramírez, após a derrota nos pênaltis para o Vasco na final do Campeonato Carioca de 1977, o saudoso técnico Claudio Coutinho, talvez motivado pelos aplausos da torcida rubro-negra em reconhecimento à boa atuação do time no tempo normal e na prorrogação, reuniu a turma do Flamengo e decidiu que iriam “comemorar” no Barril 1800, na Zona Sul do Rio de Janeiro, como se tivessem conquistado o título. E, no ônibus, junto à delegação estava o flamenguista Jorge Ben, que do fundo começou: “Penalty, penalty, penalty, penalty, penalty... Cadê o penalty, que não deram pra gente no primeiro tempo?”. Ele fazia referência a uma penalidade máxima clara a favor do Flamengo não marcada pelo árbitro, ainda na primeira etapa do jogo.

Depois de dizer como começou a tocar violão, influenciado por seu avô, ainda em Treinta y Três, pequena cidade uruguaia onde nasceu, e como se apaixonou pela música brasileira e aperfeiçoou sua mão direita para além de milongas, tangos e boleros, tocar também o nosso samba, o ex-lateral mostrou toda a sua habilidade no violão e no vozeirão, cantando “Papel de pão”, de Cristiano Fagundes, sucesso de Jorge Aragão no início dos anos 90. 

Ele também tocou “Besame mucho”, de Consuelo Velázquez, em homenagem a Carlos Gardel, que como todo bom uruguaio o reivindica como ídolo nacional, jamais argentino. Porém, a gravação não foi ao ar. Como eu disse para um fã do Museu da Pelada, se não houvesse edição, teríamos um longa-metragem e não uma entrevista, na verdade um bate-papo informal e divertidíssimo, com o Ramírez. Apesar de ser uma música com letra em Língua Espanhola, ela foi gravada por vários artistas brasileiros, entre eles, João Gilberto, Dick Farney, Cauby Peixoto, Leila Pinheiro, Maysa, Ney Matogrosso (link acima). Há também versões instrumentais, uma com o clarinetista Abel Ferreira, e outra com o flautista Altamiro Carrilho

Com a liberdade que Pugliese, o criador do Museu da Pelada, me deu para falar do projeto nas entrevistas que farei com ex-jogadores e técnicos de futebol, sempre que for possível nosso time jogará por música. Até o próximo mês! 


Confira abaixo a íntegra da entrevista de Eduardo Lamas com Sérgio Ramírez para o Museu da Pelada



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