Supersônicas

O “Corte” dissonante de Alzira E

por Tárik de Souza

quarta, 19 de julho de 2017

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Da frondosa família matogrossense do sul, Espíndola, cujo sobrenome abrevia como artista, Alzira E, irmã da cantora e compositora Tetê , integrante da vanguarda paulistana, aprofunda sua saga experimental no novo disco, “Corte” (YBMusic).  

Preparem-se para timbres e texturas inusitados via combinações de sax barítono (Cuca Ferreira), guitarra (Marcelo Dworecki, também contrabaixo), trompete e flugelhorn (Daniel Gralha), todos pilotados por integrantes do impactante grupo Bixiga 70, e mais, Fernando Thomaz (bateria) e a estréia da própria Alzira como baixista. A solista assina sozinha e ainda divide outras letras - sempre agudas e afiadas - das dez inéditas do álbum, com os parceiros Tigana Santana e arrudA (que grafa o nome nesse formato).

Assomam desconstruções sonoras (uma das faixas intitula-se “Desmonte”), utilização do ruído e vocais exasperados, como na saraivada de negativas de “Nada disso”, que abre o cortejo. Insuflada pelas agulhadas dos sopros, rasga “Boca talhada”: “boca do atalho/ boca que vira olho (...) mulher não é nunca menos/ é o sexo das risadas”.

A sensação de deslocamento desprende-se do baladão  mariachi “Cheguei” (“e a chegada nem é lugar/ nem é morada (...)/ coração reconhece a praia/ a canção é dor que desmaia/  por acaso eu cantei a vaia que o outro me dá”). Escoltada por sopros buzinando em linha, “Não existo” destila nihilismo: “Agora que você já sabe que eu não existo/ podemos desistir e duvidar de tudo isso”.

A despeito da delicadeza encordoada, “Dízima” fecha a tampa com navalha amolada: “O último prato é o homem/ quando acabará a dor que a morte não come?”


Fonte da Imagem: http://www.alzirae.com.br/assets/images/640x350_Corte.jpg

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