O enigma do Picassos Falsos

Banda precursora no engate rock-MPB, ainda em meados dos anos 80, quando infiltrou o estaciano Ismael Silva do samba “Se você jurar” em “Carne e osso”, um de seus primeiros sucessos, a carioca Picassos Falsos ressurge tinindo trincando no álbum “Nem tudo pode se ver” (Independente).

São dez faixas afiadas, a começar pelo questionamento inicial de “Enigma”, inspirada nos embates da mídia e das redes sociais (“eu vou correndo para um lado/ e logo descubro outro/ outro lugar/ onde o futuro/ já vai longe”).

A faixa título foi inspirada num conceito de José Saramago sobre a ilusão de entender as coisas na forma que elas nos chegam – “É importante em tudo dar-lhes a volta, tentar ver, perceber todas as faces”, ensinou o escritor português.

Assim, a funkiada “Eu vou à Vila”, com teclados de Humberto Barros, não se refere à mítica Vila Isabel de Noel Rosa, mas à Vila Mimosa, antigo reduto de prostituição, onde a banda presenciou um show de Mr. Catra. A cantora gaúcha radicada no Rio, Duda Brack participa de “O que fiz foi gostar”, bordada por inesperada viola caipira de Ricardo Vignini.

Fernanda Takai, do mineiro Pato Fu, impregna com a voz confidente a doceamarga “Nunca fui a Paris” (“nuvem tampa o Cristo Redentor/ nessa cidade mar e montanha/ onde a alegria tropeça na dor”). Na releitura vigorosa de “Pavão mysteriozo”, do cearense Ednardo, de 1974, ruge a guitarra de JR Tostoi, que assina ainda a produção e mixagem.

A maioria das faixas traz a assinatura de Humberto Effe (voz, backing e violão) e parceiros como Mauro Santa Cecília, Alvin L e os outros integrantes do grupo. O Picassos conta ainda com Gustavo Corsi (guitarra, violão, programações), Romanholli (baixo) e Abílio Rodrigues (bateria, percussão), que deixou a banda após as gravações, entre dezembro de 2015 e novembro de 2016, no Lab Tostoi – Ministério Studio, no Rio. No show de lançamento, dia 22 de junho, no Teatro Rival, Lourenço Monteiro assume as baquetas.