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O mês mais musical do ano

domingo, 09 de fevereiro de 2020

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Em homenagem à “grande folia”, que transforma fevereiro no mês mais musical do ano, a coluna abre os braços para a emoção do Carnaval, saudando a magia, a beleza, a criação e os grandes compositores do gênero – que fazem a alegria nas escolas ou nos blocos de rua.

No princípio era o Verbo. No livro da Bíblia, o Verbo estava com Deus. E “o Verbo era Deus.” Pelos deuses do Carnaval, que anualmente toma conta de vez da cidade, no princípio era também a alegria, porque todo poder durante os dias de folia emana do povo; especialmente o poder da criação.

Se no Gênesis “a luz resplandece nas trevas”, aqui resplandece no Sambódromo e nas principais ruas e avenidas por onde os blocos vão passar, iluminando a nossa esperança de que, pelo menos durante esses dias, homens, mulheres e meninos possam ser felizes. Muito embora se trate apenas da felicidade efêmera.

Mas onde há fé há também esperança — no repique, no tamborim, na cuíca, no tambor e no rebolado daquela passista a nos provar que a criação divina também pode ser feita de carne e osso; geralmente, mais carne do que osso.

No princípio era o Verbo e o Verbo era de Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Cartola, Carlos Cachaça, Babaú da Mangueira, Sabiá e Anescarzinho do Salgueiro, Guará, Beto Sem Braço, Zé Katimba, Dona Ivone Lara, Ismael Silva, Noca da Portela, Monarco, Nelson Sargento, Martinho e Luiz Carlos da Vila... Mas o verbo continua em ebulição e hoje quem dá a palavra tem nomes sonoros como Manu da Cuíca, que tem feito os sambas (e os desfiles) da Mangueira voltar a empolgar. 

E quem puxava o verbo era Jamelão, Quinho, Gera, Dominguinhos do Estácio, Neguinho da Beija -Flor... Todos de olho no altar onde pontificavam Xangô da Mangueira, Mestres André e Louro... cito esses porque hoje não sei muito bem como é que a banda toca.

Mas sei que muita gente boa, seja pura ou impura, derramou vales de lágrimas na Avenida, acompanhando a escola do coração em passos e compassos que diziam “Minha romântica senhora tentação/Não deixe que eu venha sucumbir nesse vendaval de paixão”, ou “Neste cenário de real valor/Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou”, ou ainda “Nossa sede é a nossa sede de que o Apartheid se destrua”...

Se nas palavras do criador, “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”, podemos reafirmar que nesse santo terreiro que vai de uma sexta-feira até no mínimo a outra, a lei foi dada por Fernando Pamplona, Joãozinho Trinta, Arlindo Rodrigues, Maria Augusta, Max Lopes, Milton Cunha, Rosa Magalhães, Paulo Barros... E que hoje é tão generosa quanto, sob a batuta de meninos como Leandro Vieira (olha a verde-e-rosa novamente aí, gente) e outros, espalhando talentos por diversas escolas de samba, de alegria, da imperiosa necessidade de sobreviver iluminando esses nossos tempos de trevas.

Porque no princípio era o Verbo, saúdo o verbo na verve e na voz dos compositores dos blocos de rua, instituição carioca que não pode ser soterrada pela intolerância que ameaça soterrar a cidade.

Evoé, querido Momo!

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