O pop banana de Julia Vargas
Segundo disco da cantora
Numa fase do mercado altamente pedreira para a MPB e num ambiente de acirrada concorrência entre vozes femininas, a cabofriense Júlia Vargas consegue aos poucos seu lugar ao som. Sob elogios e projetos ao lado de figurões como Milton Nascimento, Ivan Lins, Alceu Valença, Moraes Moreira, Wagner Tiso e uma profícua parceria com o cantor e compositor Chico Chico, filho de Cássia Eller, ela desembarca seu segundo disco de estúdio, após um “ao vivo”.
O novo projeto, em parceria com a gravadora Biscoito Fino, sai pelo selo Porangareté, dela com o produtor Rodrigo Garcia e Maria Eugenia, viúva de Cássia. “Pop banana” sugere uma antropofagia tropicalista, que inclui um link com fundadores do movimento como Tom Zé (“Mã”, do icônico “Estudando o samba”) e Jorge Mautner (“Samba Jambo”, com Nelson Jacobina).
Voz guia das cantoras modernas, Elis Regina é evocada numa obscura da dupla João Bosco e Aldir Blanc (“Comadre”, gravada no disco “Elis”, de 1973), enquanto a Olívia Byington, da lisérgica A Barca do Sol, é lembrada na releitura de “Lady Jane” (Nando/Geraldo Carneiro).
O libertário alado Ney Matogrosso endossa o tango híbrido “Pedra dura”, dos irmãos de Júlia, André e Ivo Vargas. E outras novas assinaturas, como a de Carlos Posada (“Pulmão”, com intervenção vocal de Pedro Luís) e Marcos Mesmo (“A vida não é sopa”) alçam vôo na voz altissonante e desinibida de Júlia.
Ela ainda registrou quatro temas de Claos Mózi, entre eles, o xaxado de rimas no contraplano, “Eva Maria” (com Vitor Lobo), e a faixa título, que ecoa mais tinturas tropicalistas, da “Bananeira”, de João Donato e Gilberto Gil ao “O vendedor de bananas”, de Jorge Ben Jor.