Colunista Convidado

Orquestra Tom Jobim grava Moacir Santos e faz concertos em São Paulo

quinta, 21 de março de 2019

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“Tu que não és um só/ és tantos”. O igualmente plural poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), em seu ecumênico “Samba da benção” tentava situar o parceiro – o maestro pernambucano Moacir Santos (1926-2006). Que era ainda o arranjador deste mesmo álbum de estréia de Vinicius, ao lado da atriz Odete Lara, numa audácia do produtor Aloysio de Oliveira, em seu selo Elenco, em 1963. Moacir ainda faria arranjos para outro disco da Elenco da época, de um seu discípulo (também estudaram com ele, Paulo Moura, Sérgio Mendes, João Donato, Roberto Menescal, Eumir Deodato, Nara Leão), o extraordinário violonista Baden Powell. E mais: participaria como cantor da trilha do musical “Pobre menina rica”, do mesmo Vinicius e Carlos Lyra e ainda do marco do samba jazz, “Edison é samba novo”, do baterista Edison Machado. Mas sobretudo, antes de mudar-se para os EUA, em 1967, legaria seu impecável manifesto instrumental, “Coisas”, pelo selo Forma, de outro produtor arrojado, Roberto Quartin, em 1965. Mas só com a réplica do repertório deste disco (e acréscimos do trabalho de Moacir nos EUA) no duplo “Ouro negro", produção de Zé Nogueira e Mario Adnet, em 2001, a obra do maestro passaria a circular com mais força nas veias da MPB. 

Ele inspira mais um projeto grandioso: o CD “Orquestra Jovem Tom Jobim visita Moacir Santos”. Sob regência dos maestros Tiago Costa e Nelson Ayres, o álbum foi gravado, em setembro de 2017, no estúdio Paulinas, em São Paulo, e lançado em edição limitada, com o patrocínio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo. Criado em 2001, durante o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, SP, o grupo de difusão e formação da EMESP Tom Jobim “possibilita a vivência orquestral dos bolsistas por meio do resgate de obras tradicionais de grandes compositores nacionais”.

Além da atuação afiada e desafiadora dos jovens integrantes da orquestra há ainda participações especiais do trompetista Daniel D’Alcantara e do saxofonista e professor da Julliard School americana, Ted Nash. Assinam os arranjos Nelson Ayres, Nailor Proveta, Carlos Iafelice e Tiago Costa. Primorosamente selecionado, o repertório vadeia por temas emblemáticos do disco chave da obra de Moacir: “Coisa no. 1”, “Coisa no. 2”, “Coisa no. 5” ( a célebre “Nanã”, assim conhecida após a letra de Mario Telles) e “Coisa no. 10”. Elas são ressignificadas em arranjos repletos de tramas, polifonias e encantatórios solos de sopros, que as transformam às vezes de forma radical, mas nunca discrepante da acuidade musical da matriz. O disco tem ainda o requintado choro “Amphibious”, “Outra coisa”, “Kathy”, “Love go down” e mais o melífluo samba “Se você disser que sim”, em parceria com Vinicius gravado num disco de Elizeth Cardoso com a obra da dupla, de 1963.

Quem quiser conhecer ao vivo a Orquestra Tom Jobim tem novas oportunidades dias 22 e 24 de março, no Theatro São Pedro, em São Paulo. Sob a batuta do maestro Tiago Costa, o grupo apresenta uma suíte com canções de Milton Nascimento e outra de “Canção do amor demais”, o icônico álbum do repertório de Jobim & Vinicius lançado por Elizeth Cardoso, em 1958, e um Jobim “Lado B” (“O boto”, “Pato preto”, “Quebra pedra”). A flautista Lea Freire participa das apresentações a bordo de suas composições “Risco” e “Vento em madeira”, e o pianista e compositor Amilton Godoy com três autorais, escritas originalmente para trio (“Tudo bem”, “Teus olhos”, “Choro”) e adaptadas para orquestra. Godoy foi um dos ases da bossa paulista dos anos 60, como temas como “Dá-me”, “Mensagem”, “Preconceito”, “Sou sem paz”, “Tristeza que se foi” e “Zero hora”.

Por: Tárik de Souza


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