Os 88 de Dóris Monteiro no Teatro Rival: uma Rainha que jamais perdeu a majestade
por Caio Andrade
A última sexta-feira (21/10) foi dia de celebrar em vida os 88 anos de um dos grandes nomes do rádio e da música brasileira: Dóris Monteiro, no palco do Teatro Rival Refit. Foram cerca de duas horas rememorando os diversos sucessos da cantora, em uma carreira que já ultrapassou sete décadas - daí o nome do espetáculo, “70 Estações”.
A cantora, que iniciou a carreira em 1949, se destacou indo na contramão das artistas de voz empostada da sua época, a exemplo de nomes como Dalva de Oliveira e um pouco depois Angela Maria. A voz calma, suave e cheia de bossa de Adelina Dóris Monteiro a transformou ainda bem nova em uma cantora moderna, dando vida tanto a sambas-canções mais lentos quanto músicas dentro do dito “sambalanço”, aproximando a artista da bossa nova efervescente. Foi todo esse talento que a coroou em 1956 e 1957 como Rainha do Rádio, sendo uma das últimas Rainhas ainda em atividade.
Com aquele jeito simpático, sincero e irreverente que só ela possui, tinha Dóris para todos os tipos de público: desde os passionais que gostam de canções como “Dó-ré-mi” e “Graças a Deus”, até os que preferem a fase mais sambalanço dela com letras divertidas como “A Banca do Distinto” e “Mocinho Bonito”. Inclusive, antes de cantar essa última, ela ainda ironizou: “eu vou cantar essa música agora porque ela tem uma letra bem atual. Vocês vão entender.” E começou: “mocinho bonito, perfeito improviso do falso granfino…”. E, logicamente, não faltou espaço para outros sucessos como “Mudando de Conversa”, “É Isso Aí” e “Maitá”.
Acompanhada apenas de um trio bem jazzístico, com baixo, teclados e bateria, chama atenção a vitalidade da artista. Mesmo com idade avançada, Dóris parece não sentir o peso dos anos em vários momentos. A ginga e a bossa que a consagraram tanto em carreira solo quanto nos duetos com Miltinho continuam intactas, para alegria de seus fãs. E ela nos agraciava tanto cantando quanto contando histórias por trás de algumas de suas gravações.
Por exemplo, do repertório escolhido para o show, uma canção em especial merece destaque. Dóris apresentou para o público - podemos dizer até de forma inédita? - alguns versos de “A Banda”, de Chico Buarque, que, segundo ela, foi gravado há muitos anos em um compacto promocional para uma empresa. Esse sim é raridade!
Encerrando o show cantando “Copacabana”, a sensação deixada no público é de um eterno bis, afinal, ninguém quer que uma artista como Dóris pare de cantar. Quando será o próximo show? O próximo disco? O que ela virá em seguida? Tomara que não demore.
O Instituto agradece imensamente o Teatro Rival Refit por nos abrir as portas mais uma vez. E, claro, parabéns, Dóris! Viva sua música, viva seu talento!
Comentários