Os filmes musicados de Rafa Barreto
Embora não faltem projetos linkando discos e filmes, “Sessões perdidas” (YBmusic), do guitarrista, produtor e cantor Rafa Barreto (que já atuou com Tom Zé, Chico Cesar, Alceu Valença, Kiko Dinucci, Thiago França e Guilherme Kastrup) é inusitado.
Onze das doze faixas deste seu terceiro disco tem os títulos dos longas que suas composições (re)interpretam num clima cáustico e dissonante. São eles: “Pina”, sobre a bailarina e coreógrafa Pina Bausch (“osso/ pele inteira/ rosto de condor”), do cineasta alemão Wim Wenders, “Cães errantes” (“trinca o olho com quem/ prende o grito até nascer”), do malaio Tsai Ming Liang, Tony Manero (“só penso na fama, na camisa bacana/ no bilhete de cem”), do chileno Pablo Larrain, “Leviatã” (“ao que me parece não vai dar/ pra arrumar, nem se programar/ vem do alto a ordem sobe e desce”), do russo Andrey Zvyagintsev.
E mais, “Oxalá cresçam pitangas” (“mesmo ferido sigo na rua/ mesmo que o chão só tenha navalha”), do angolano Ondjaki, “Oldboy” (“pé piquei/ mão salguei/ e juntei tudinho pra jantar você”), do coreano do sul Park Chan-wook, “Boneca inflável” (“mas se o ser é todo feito de ar/ se furar o corpo vai amassar”), do japonês Hirokazu Koreeda, “Adeus à linguagem” (“se o sentido todo é aquilo que sei/ e se aquilo que sei nem sentido algum deve ter”), do vanguardista franco-suíço Jean-Luc Godard.
E ainda, o asfixiante “A caça” (“rosna de horror/ saliva pra poder abater/ e tem sabor/ de coisa que lambussa papel”), do dinamarquês Thomas Vinteberg, “Birdman” (“levitou lá fora/ e o teto desabou”), do mexicano Alejandro G. Iñarritu e o único brasileiro, “Tatuagem” (“se o amor não tem dono, nem cheiro/ nem cor/ eu vou amar do jeito que for”), do pernambucano Hilton Lacerda. Para encerrar o disco, um tapa na cara do real, “Isto não é cinema”: “Pedro, Mariana, Antonio, Ciro, Paula/ podia ser Marco/ até Edinaldo/ foi pelo ralo/ tudo pela pátria”.
Fonte das imagens: Divulgação (fotos de José de Holanda)
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