Os Tribalistas voltam múltiplos e afiados

Com um primeiro e único disco/DVD lançado em 2002, de enorme sucesso, inclusive internacional, e esparsos shows, os Tribalistas Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte ressurgem a bordo de uma segunda edição do projeto coletivo.

O DVD, impecável, da Samba Filmes, dirigido por Dora (neta de Tom) Jobim foi ao ar (enxugado em alguns trechos para caber no horário), quinta-feira passada, na TV Globo, logo após o jogo Brasil X Equador. Tanto ele quanto o CD já estão nos mercados físico e digital com o selo Phonomotor, de Marisa (produtora, junto com Antunes, Brown, Alê Siqueira e Daniel Carvalho), distribuído pela Universal.

Surpreende logo a primeira e contundente faixa “Diáspora”, assinada pelo trio central, que aborda a chaga dos exilados planeta afora: “atravessamos pro outro lado/ no rio Vermelho do mar sagrado/ nos Center shoppings superlotados/ de retirantes, refugiados”. As ocupações populares de espaços públicos e privados é evocada em “Lutar e vencer” (“temos suprimento/ temos provisão/ nesse acampamento/ nessa ocupação”). E a dialética “Um só” (do trio com o filho de Arnaldo, Brás Antunes) embaralha tudo: “Somos comunistas/ e capitalistas/ somos anarquistas/ somos o patrão/ somos a justiça/ somos o ladrão/ somos da quadrilha/ viva São João”. Ou seja, ay que endurecer, mas sem perder o humor e a leveza, como demonstram outras faixas.

Do romantismo de “Aliança” e “Fora da memória” (do trio central e mais os instrumentistas participantes Pedro Baby e Pretinho da Serrinha), ou a ingênua “Os peixinhos”, com a adesão autoral e vocal (e instrumental) da lusa Carminho. Como ocorre nos discos da Tribo não há ritmos/gêneros fixos, impera uma saudável flutuação estética, que leva a surpresas. Mesmo no explícito “Baião do mundo” (“preciosa, milagrosa/ vem, regai por nós/ vai corrente da nascente até chegar à foz”), o percussionista Brown admite ter injetado um samba, na contramão.