Entrevista

Paulo Valdez Junior, neto de Elizeth Cardoso, concede entrevista ao IMMuB

Por Ana Carolina Alvarenga e Cecília Innecco

Terça, 28 de maio de 2024

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Ele compartilhou suas memórias com a cantora e falou sobre a criação da cerveja Divina Elizeth

Em um bate-papo descontraído, Paulo Valdez Junior contou um pouco sobre como Elizeth influenciou uma parte de sua vida, especialmente quando tratamos de sua herança musical e como, para honrar o centenário de sua avó, em 2020, ele resolveu criar uma Pilsen que é a cara da música popular brasileira: a Divina Elizeth. A cerveja é  produzida pela Cervejaria Água de Bamba, que consagra outro grande sucesso, dessa vez de Martinho da Vila

Paulo César com a cerveja Divina Elizeth

Confira a entrevista completa: 

IMMuB: Quais são as suas primeiras memórias musicais com a sua avó? 

Paulo Cesar Valdez Junior: Lá em casa sempre tocou muita música. Eu não entendia, na verdade, em relação à minha avó, o que ela fazia. Mas lá em casa sempre tocou muita música. A gente escutava de tudo. Então, minha referência, em termos musicais, era do jazz à bossa nova, samba, samba de enredo. A memória que eu tenho, assim, musical, das pessoas frequentando a casa da minha avó, ouvir aqueles músicos, era violão para cá, piano para lá. Tinha um piano na casa da minha avó. Então, o que me lembro de infância é isso: a casa cheia, sempre tinha alguém cantando, sabe? Ela não se escutava em casa, isso era uma coisa engraçada. Ela escutava os outros, mas não se escutava. Então, a memória que eu tenho de pequeno é isso.

IMMuB: Quando percebeu que a sua avó não era igual a avó dos seus amigos?

Paulo Cesar Valdez Junior: Demorei para perceber. Porque o referencial que eu tinha dentro de casa era realmente de avó mesmo. Aquela avó que faz sanduíche, faz suco, cuida de você e tudo. Eu sabia que minha avó trabalhava, era cantora, mas não tinha ideia da dimensão que ela tinha. Às vezes, a gente saía na rua, as pessoas passavam e falavam “Oi, Elizeth” e eu perguntava: “Ela conhece a senhora da onde?”. Eu não tinha ideia. Isso até uns 10 anos, 11 anos. E eu viajava com ela. Sempre nas minhas férias, eu viajava. Conheci o Brasil praticamente inteiro viajando com a minha avó. Só que, com o tempo, fui vendo a dimensão que ela tinha para a música brasileira. E para ser bem sincero, depois do falecimento dela, que eu tinha 16 anos, foi aquele impacto, de começar a ver o que ela significava para a música. Justamente por causa disso, porque a referência que eu tinha dela era de avó mesmo. A artista estava da porta para fora, dentro de casa era uma avó como qualquer outra. É assim, demorou para entender isso, sabe?

IMMuB: De que maneira a música de sua avó influenciou sua própria vida ou seu gosto musical? 

Paulo Cesar Valdez Junior: Então, como lá em casa - quando digo lá em casa, na casa da minha avó, porque eu estava sempre lá nas férias e tudo - como ela não se escutava dentro de casa, escutava os outros, eu escutei de tudo. Todos os cantores, tudo que você pode imaginar, de música popular brasileira, escutava jazz. Sarah Vaughan era amiga da minha avó, então eu gostava muito de jazz, gostava de blues, era o que acontecia lá dentro de casa. Querendo ou não, isso você vai absorvendo. Minha avó escutava Djavan, outro dia, eu vi um vídeo dela falando dos conjuntos que ela gostava, do rap que ela gostava, ela falou que gostava da Blitz, Paralamas, sabe? A minha bagagem cultural e musical foi muito formada por conta disso, de escutar de tudo. E as músicas dela, eu escutava na minha casa ou nos shows. Minha bagagem musical é muito em cima disso, é bem eclética, gosto de música boa.

IMMuB: Havia algum álbum que ela ouvisse muito, ou artista que ela admirava e passou a fazer parte dos seus favoritos? 

Paulo Cesar Valdez Junior: Tom Jobim tocava muito lá em casa. Tom, Vinícius, Clara Nunes... Clara Nunes faleceu antes da minha avó, ela sempre falava que a Clara seria sucessora dela. Clara Nunes, Elis Regina, eram coisas que tocavam lá em casa. Álbum de outra pessoa, eu acho que as coisas do Tom Jobim ficaram marcadas. Até porque, em 1958, ela lançou a dupla Vinícius e Tom Jobim, foi quando surgiu o primeiro registro da Bossa Nova, em “Canção do Amor Demais". Acho que isso ficou bem impregnado no meu gosto musical.

IMMuB: Você tem uma música favorita dela? 

Paulo Cesar Valdez Junior: Tenho várias. O repertório dela é muito rico. Ela gravou tudo que você pode imaginar. De compositores do Morro, a Bossa Nova, o samba-canção que sempre foi forte da minha avó. Mas tem uma música que, atualmente, me fez ter a ideia de lançar cervejaria, foi “Eu Bebo Sim". Foi um hit da década de 70 e que bateu e ficou na minha cabeça. A ideia de lançar a cerveja Divina Elizeth foi muito por conta do “Eu Bebo Sim". Uma música alegre, é um hit que todo mundo conhece, não tem uma pessoa que não cante “Eu Bebo Sim”.  Foi uma forma de aproximar, principalmente a geração de hoje em dia, que muitas vezes não conhecia Elizeth Cardoso, de conhecer o repertório dela. Uma música que fez um link com o presente e o passado, para as pessoas começarem a escutar Elizeth Cardoso. “Eu Bebo Sim” é uma música engraçada, brinca com a coisa do, eu estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo. É uma brincadeira, na verdade, né? Mas assim, foi uma música que, hoje em dia, se transformou numa realidade que é a Divina Elizeth.

IMMuB: Como você mantém viva a herança musical de sua avó?

Paulo Cesar Valdez Junior: Em 2020, se minha avó estivesse viva, seria o centenário dela. Na época, eu já tive a ideia de pegar todos os álbuns da minha avó, que minha avó gravou mais de 40, 50 LPs, colocar tudo nas plataformas digitais para que as pessoas pudessem escutar Elizeth Cardoso. E uma das ações que vieram logo em seguida foi a criação da cerveja. Para poder fazer esse link, sabe? Deixar a memória e as pessoas terem interesse. Muita gente, infelizmente, não sabe quem foi Elizeth Cardoso. Por conta do “Eu Bebo Sim”, por conta da playlist e da cerveja, as pessoas têm interesse em querer saber quem é. Você vê, hoje em dia, tem muitos jovens. “Pô, quem foi Elizeth Cardoso?” Na maioria das vezes, quando eu falo da cerveja, falo “sabe aquela música “Eu Bebo Sim”?”  e todo mundo canta. Acho que não tem uma pessoa que tenha tomado uma cerveja na vida que não tenha cantado “Eu Bebo Sim”. Fora as páginas que existem, homenagem à minha avó. A própria página da Cervejaria Água de Bamba, a gente trabalha em função disso, de mostrar o que foi Elizeth Cardoso, mostrar cerveja e as pessoas escutando. Eu acho que o maior legado dela foi realmente a voz, então as pessoas têm que escutar. Tem a playlist da Água de Bamba, a gente fez com muito carinho para que as pessoas escutassem, tem as melhores músicas, músicas que nem são tão conhecidas, mas eu quero que as pessoas ouçam. E a ideia é essa, reviver a memória da minha avó através das redes sociais e da cerveja Divina Elizeth.

IMMuB: De onde veio a inspiração para Divina Elizeth?

Paulo Cesar Valdez Junior: Então, estava eu um belo dia em casa, vendo televisão, e vi o comercial de cerveja, e lembrei do "Eu Bebo Sim" da minha avó. É um hit, todo mundo conhece. E aí eu fiquei pensando, já tinha colocado as músicas todas em plataforma digital, já tinha contribuído dessa forma, mas eu achava que faltava alguma coisa. E a gente sabe que minha avó era uma cantora popular, cantava música popular brasileira, e nada mais popular que uma cerveja. Eu fiz um link na hora, e aí a gente teve a ideia de criar uma Pilsen. Uma cerveja super popular, mas eu queria que fosse elegante, que fosse saborosa, gostosa, com a cara do Rio de Janeiro, com a personalidade, principalmente da minha avó, alegre. E teve todo um desenvolvimento em cima da Divina Elizeth. Divina, por quê? Porque minha avó tinha esse apelido carinhoso de Divina. Então, foi a inspiração para fazer a nossa Pilsen. O rótulo foi inspirado no primeiro 78 rotações da minha avó, em 1950, teve todo um trabalho em cima disso. A coisa da poesia líquida, do rótulo, da Cervejaria Água de Bamba, como dizia aquela música do Martinho Da Vila: “na minha casa, todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba”. Foi mais ou menos esse conceito. E nós lançamos a cerveja no centenário da minha avó, em 2020. De lá para cá, a gente vem aos poucos mostrando a Divina, as pessoas vêm saboreando, vêm bebendo, vêm degustando a cerveja. Eu fico muito feliz, é uma forma de presentear, de agradecer tudo que aprendi com a minha avó.

IMMuB: Dá pra comparar a alegria de tomar uma boa cerveja com os amigos ao prazer de ouvir as músicas de Elizeth Cardoso? 

Paulo Cesar Valdez Junior: Ah, tem tudo a ver, né? Tem tudo a ver porque cerveja é uma bebida... Geralmente, você não bebe a cerveja sozinha, você bebe com outras pessoas, é o papo, é a conversa. Não é uma bebida solitária, não é um copo de uísque que você bebe, né? A cerveja gera bons papos, boas conversas. E beber escutando Elizeth é a melhor coisa que tem. Abrir uma Divina Elizeth com os amigos e escutar um dos sambas, das canções que ela tinha, é maravilhoso. E não só da minha avó, mas escutar música boa, entendeu? A ideia da gente na cervejaria é isso, é mostrar música boa. E tem tudo a ver. 

Gostou da entrevista e quer provar a cerveja Divina Elizeth? Vai acontecer o sorteio de 2 garrafas de 500ml no Instagram do IMMuB. Nos siga para acompanhar! 

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