Música

Péri canta Caymmi em seu 9º álbum, o inédito 'O Bem do Mar'

No repertório, 15 músicas da fase praieira da obra de Caymmi, gravadas numa versão minimalista

sábado, 19 de outubro de 2019

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Dois homens, pais, artistas, compositores, cantores, baianos, soteropolitanos, que aprenderam muito cedo a amar o mar e a tocar violão, sozinhos. Esses são, resumidamente, Péri e Dorival Caymmi (1914 - 2008), que nasceram com meio século de diferença, mas desde a infância estão ligados pelo mar, pela música e pela Bahia, assim como pelo dom e pelo propósito de compartilhar com as pessoas a sua interpretação do mundo e dos sentimentos universais por meio de suas obras musicais.

Ouça agora "O Bem do Mar" (clique aqui)!


“Sempre senti que de alguma forma ele influenciou minha obra, minha atitude, minha visão de mundo como artista. O entendimento dele do mar e das pessoas do mar sempre me encantou e assim eu o mantive perto da minha necessidade de ser artista, de ser compositor e de também expressar meus sentimentos. Tomei Caymmi como uma inspiração, uma régua importante, um companheiro de jornada. Caymmi sabe tudo, é nosso eterno farol”, declara Péri.

Foi o avô, de mesmo nome, Periandro, que contou a Péri as primeiras histórias de Caymmi sobre o mar, o vento e a noite, os pescadores, jangadas e saveiros, elementos construtores da música popular brasileira de todos os tempos e de todos os Santos, hábitos, costumes e tradições do povo baiano que ajudaram Caymmi a desenvolver um estilo pessoal de compor e cantar, com muita espontaneidade e versos melódicos.


"Meu avô Periandro veraneava no bairro de Itapuã no começo do século e nos contava muitas histórias. Depois minha família foi morar lá, bem perto do mar e eu vivia na praia. Também passeava muito na Lagoa Abaeté, ainda criança. Recordo do medo e do mistério que sempre existiu em torno da Lagoa e da beleza das praias da orla do bairro de Piatã, onde ajudei a puxar muita rede de xaréu com os pescadores da zona de Itapuã e daquela parte da costa. Lembro da canoa jogando a rede, puxando e trazendo para a areia e todo mundo na praia ajudando a puxar os peixes, o xaréu brilhando, aquele tom prata, a luz batendo e todo aquele brilho intenso dos peixes pulando dentro da rede. Esse cenário sempre fez parte do meu universo. Caymmi sempre esteve em mim, a inspiração sempre esteve ali, presente, mesmo sem eu saber”, admite Péri, que enquanto pesquisava referências do artista para gravar um novo trabalho autoral, foi arrebatado pela força de suas canções, mergulhou na obra do compositor e saiu de lá com seu 9º álbum.


“O Bem do Mar":
Mesmo sem um planejamento prévio, Péri confessa que gravar Dorival Caymmi foi um sonho, pois era uma vontade e uma necessidade que agora se concretizou.

"Eu estava começando a gravar um novo álbum autoral, que eu queria lançar ainda em 2019, quando, no meio do processo dos arranjos, fiquei burilando, tocando algumas canções de Caymmi que eu não tocava há muito tempo. Músicas da primeira fase dele, as canções praieiras, sobre como ele enxergava o mar e as pessoas do mar de Salvador e do Recôncavo Baiano. Fui lembrando das canções, depois peguei song books, gravações antigas e aí esse sentimento foi tomando conta de mim e quando me vi estava parando a gravação do meu disco. Peguei a guitarra e comecei a gravar essas canções dele, estava dentro do estúdio. Caymmi se impôs, não me preparei pra isso, mas aconteceu, tomou conta de mim. E como diz outro mestre, Gilberto Gil, quando Buda Nagô toma conta e se impõe, não se vai contra isso e então eu me deixei levar pela corrente de Caymmi”, revela.


O resultado foi um álbum inédito, o nono de Péri, intitulado “O Bem do Mar”, nome da terceira das 15 canções de Caymmi que ele selecionou do cancioneiro praieiro do artista, pérolas, como “O mar”, “História de pescador” e “Milagre”.

As músicas foram gravadas numa versão minimalista, apenas com voz e guitarra semi-acústica, fazendo dessa elegia aos clássicos do passado, à simplicidade e à sofisticação de Caymmi, uma nova ponte para o futuro da canção popular brasileira. O que Péri mais gosta em Caymmi são as gravações voz e violão.


"É a matriz única e verdadeira do compositor e outro compositor reconhece isso, de onde veio tudo, a pedra fundamental. É na voz e no violão que você percebe a canção e entende tudo”, explica.

Mas ele completa dizendo que não queria se repetir e pegou a guitarra quando começou a tocar para tentar trazer as canções um pouco mais para o universo atual. E deu certo.

"Comecei a cantar com uma guitarra semi-acústica que eu tinha no estúdio e tudo tomou força, rapidamente. Quando me dei conta do quanto Caymmi já estava dentro de mim, pronto pra sair, eu disse sim para dar vazão a todo o entendimento da obra dele na voz e guitarra, uma releitura do meu gosto pessoal de ouvi-lo cantar voz e violão. Quis reproduzir isso para homenageá-lo de alguma forma, dando todo o sentido ao que ele quis dizer apenas numa só voz e num instrumento, sem muitos recursos de arranjos, de banda, de outros músicos. Usei o princípio da composição, uma voz e um instrumento”, conceitua Péri.


Ele afirma que dessa forma é possível entender melhor a voz e a composição do artista. E o toque original da gravação com a guitarra semi-acústica agradou e manteve o tom de mistério que ele compreendia que existia nas composições e na obra de Caymmi a partir do que ele percebeu no começo do século passado e que lhe ajudou a entender o que era o mundo onde vivia.

"É importante mostrar o quanto a obra de Caymmi é atual. Ele foi e continua sendo um dos maiores influenciadores de todos compositores que vieram depois dele. E suas metáforas e construções também continuam atuais. O trabalho, o tempo, as alegrias, desilusões, a relação com a natureza, o desafio da lida, o amor, a saudade, a esperança. Tudo o que Caymmi percebeu do mundo e de sua época se transporta até hoje. Não quis cantar uma simples interpretação lírica sobre o que é o mar, a natureza, um lugar idílico, uma Bahia que se foi com sua doçura, que talvez não exista mais, precisava entender o que ele quis dizer e ao mesmo tempo entender porque eu entendia que aquilo era tão atual e necessário, hoje. O que ele fala continua acontecendo, é um grito de alerta para todos, podemos entender isso e usar Caymmi para compreender o mundo e tentar transformá-lo, melhorá-lo. Essa foi minha epifania”.


Posicionamento:
Além dos mistérios, Péri ressalta que as canções praieiras do começo da obra de Caymmi também falavam do mar como sustento de pescadores e suas famílias, uma metáfora muito atual do trabalhador do Brasil, que ainda precisa sair de casa de madrugada, antes do sol nascer, para ganhar seu sustento, enfrentando a violência crescente e o desafio da falta de transporte adequado, de um sistema viário aliado ao sistema habitacional, assim como o pescador enfrenta o vento, a tempestade e as dificuldades do mar. 

"Além das dificuldades da vida, a natureza se impõe, inexorável, diante de uma pequena jangada, um pequeno barco, uma pequena canoa, onde alguém está ali para tentar levar seu sustento pra casa. E essa metáfora da pessoa que vai e entra no transporte público antes do sol nascer pra chegar no trabalho e ganhar seu pão de cada dia, entendi que essa era muito atual, mesmo cem anos depois”, analisa o artista.


Péri confessa que está em um novo momento da sua carreira musical, em que faz uma ode à obra de um compositor que ele admira  tão profundamente.

“É uma pequena retribuição a tudo o que ele nos deu, fez e continua fazendo, com seus três filhos, Nana, Dori e Danilo, por exemplo, que estão super ativos, levando a própria arte e a do pai mundo afora. Estou muito feliz”, garante.

Os próximos passos também são para comemorar. Péri está planejando seguir em turnê nacional, começando pela Bahia, em Salvador, e, posteriormente, internacional, com expectativa de parada no Japão.

Assista ao videoclipe de "O Bem do Mar":



FICHA TÉCNICA:

  • Álbum “O Bem do Mar”: Produzido por Péri, gravado pelo selo Baticum Discos, nos estúdios Baticum, no outono de 2019, em São Paulo, Brasil, mixado e masterizado por Ro Fonseca, com Péri na voz e na guitarra semi-acústica.
  • Fotos: “Mar” por Xicu Sales, “Péri” por João Quesado. 
  • Arte capa: por Jomar Farias e Giuliano Misseroni.
  • Produção: Fá Almeida | faalmeida@diorama.com.br
  • Manager: Sergio Kertész | sergio@ksz.com.br
  • Site Oficial: www.peri.art.br
  • Instagram: @periandro /  Twitter: @periandro


Repertório:
01. A jangada voltou só
02. É doce morrer no mar
03. O bem do mar
04. Morena do mar
05. O vento
06. Noite de temporal
07. A lenda do Abaeté
08. Promessa de pescador
09. História de pescador
10. Milagre
11. Canoeiro
12. Quem vem pra beira do mar
13. O mar
14. Sargaço mar
15. Sodade matadeira



Encaminhado por: Assessoria de Imprensa Core Comunicação
Fonte da imagem: Arte da capa por Xicu Sales | fotos de Xicu Sales


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