Supersônicas

“Piano” e “Leva no piano”, a dose dupla do talento de Chico Adnet

terça, 24 de abril de 2018

Compartilhar:

Pai do humorista Marcelo Adnet, irmão do violonista e compositor Mario Adnet e das cantoras Muiza e Maúcha Adnet, o compositor, pianista e cantor Chico Adnet (uma das vozes do conjunto Céu da Boca, entre 1979 e 1983) lança dois discos de uma vez, escorados em seu instrumento:Piano e Leva no piano, por seu selo Repique Brasil. Criador de jingles publicitários e trilhas para TV, ele espraia sua liberdade criativa sozinho ao instrumento no primeiro disco. São dez temas de inclinação erudita, que ele chama de “Pequena peça para piano”, numeradas de 1 a 10, dedicadas a músicos, amigos e parentes. Completa o repertório homenagens a Bach (“Bachiando”), “Homenagem a A. Scriabin, “Choro para Luiz Eça, “Acalanto para Isabella”, uma “Última valsa” e um “Rondó”.

O CD Leva no piano, como induz o título, reúne composições de linhagem MPB, entre sombrias baladas e sambas gingantes, levados no piano. A começar pelo sincopado “Leva no piano, leva no pandeiro”, que incensa do lendário pandeirista João da Bahiana (“que tem samba no pé”), ao erudito popular Ernesto Nazareth (“que tem samba na mão”). O baixista Jorge Helder e o pandeirista Marcos Suzano dialogam com o piano do solista, que, por sua vez, contracena, no melhor estilo teatro de revista, com Maúcha e Muíza Adnet, no “Samba da feira”. Na linhagem do “Boneca de piche” (Ary Barroso/ Luis Iglesias), ele cita “Os quindins de Yayá”, e referenda a viagem pelo retrovisor na entrevista para o texto de apresentação:

“Sou um dinossauro que ama as canções brasileiras e os seus criadores. Acredito que precisamos cultuar a música dos nossos grandes autores ou corremos o risco de fazer um som ralo, sem importância. A música popular pode ser solta, alegre, cantada do avesso, de trás pra frente, mas não pode ignorar esses mestres”, prega.

Entre eles, há ainda a canção endereçada “Acorda (Jobiniana)”, e a esgarçada “Solidão (Beco das Garrafas)”, que biografa um músico de volta para casa na madrugada do mítico muquifo musical de Copacabana. Outro samba gingado e dialogado (com o cantor Pedro Miranda), é o satírico “Sete pecados capitais”, que mais parece letrado pelo filho humorista: “Que culpa tenho eu/ de ser simpático, bonito/ e talentoso assim?/ que culpa tenho eu de ter suingue e ser considerado o tal?/ de ser interessante e ter a cara sempre estampada no jornal”. Acompanhado pelo irmão Mario Adnet ao violão, Edu Neves (flautas) e Marcelo Costa (percussão), em “Samba de cor”, Chico ainda arrisca-se a mexer num vespeiro, nesta época de redes sociais intolerantes. Mas o faz com sagacidade e maestria: ”Se samba é coisa de preto/ então, sou preto, meu bem/ verde e amarelo, azul/ também me convém/ pois eu sou branquelo/ mas sou brasileiro/ e de um modo singelo/ eu sou do samba também”.


Comentários

Divulgue seu lançamento