Piazzolla à brasileira com o Harmonitango de Zagury, Santoro e Staneck
por Tárik de Souza
Enquanto o movimento bossa nova recrutou dezenas de aliados de vários estados brasileiros, na Argentina, o platense Astor (Pantaléon) Piazzolla (1921-1992) bancou sozinho a remodelação do tradicional tango, “entre peleas, trompaços y tiros”, como costumava dizer.
Utilizando elementos da música erudita e do jazz, ele criou o que denominava “música contemporânea de cidade de Buenos Aires”, que teve ampla ressonância no Brasil. Desde a primeira e inusitada gravação da “Balada para um louco” pelo cantor/humorista Moacyr Franco, em 1970, passando por parcerias com o poeta Geraldo Carneiro (“As ilhas”, gravada por Ney Matogrosso, em 1975, “Luz do tango”, por Olívia Byington, em 1978, “Canção de amor”, pelas Frenéticas, em 1984) e incontáveis temporadas brasileiras de enorme sucesso.
Em “Harmonitango” (A Casa Discos/ Tratore), última produção do erudito Sergio Roberto de Oliveira, morto em julho passado, ele é celebrado pelo trio instrumental formado pela pianista Sheila Zagury (arranjadora e professora da UFRJ, com licenciatura e mestrado na UNI-Rio e Doutorado na Unicamp), o cellista Ricardo Santoro (do Duo Santoro, Trio Aquarius, Trio Mignone, da OSB, mestre pela UFRJ e sua Sinfônica) e o ás da harmônica José Staneck (de diversas formações camerísticas, solista de sinfônicas brasileiras e internacionais).
O sortilégio do reinventor do tango salta de sua reverência ao compositor brasileiro em “Retrato de Milton” (Nascimento) incluída no repertório. A seu lado, os megaclássicos “Adiós Nonino” (para o pai, que acabara de perder em 1959), “Libertango” (da série que tem os também incluídos, “Meditango” e “Violentango”) e “Fuga y mistério”, da ópera tango “Maria de Buenos Aires”. “Milonga Del Angel” e “Ressurrección del Angel” pertencem à série “Angel”, enquanto “Oblivion” foi escrita, em 1982, para o filme “Enrico IV”, do cineasta Marco Bellochio.
Zaguri, Santoro e Staneck revisitam a densa obra do vizinho com requintes de erudição e malemolência à brasileira. O disco será lançado no Rio, em concertos, dia 7 de outubro, no Centro da Música Carioca, na Tijuca, e dia 8, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca.
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