Colunista Convidado

Primeiro Álbum de Roberto Carlos Chega Aos 60 Anos Ainda Proscrito da Discografia do Rei

quarta, 08 de dezembro de 2021

Compartilhar:

O disco de história mais tortuosa na música brasileira. Lançado há 60 anos, teve capa plagiada de um álbum de um organista americano, vendeu muito pouco (não se sabe quanto mas, certamente, não mais de mil cópias ), saiu logo de catálogo e, passou quase despercebido na época em que chegou às lojas. E ainda: não terá reedição comemorativa. O título do disco: Louco por você, primeiro LP de Roberto Carlos, (com selo Columbia). Dez anos atrás, o disco foi motivo de um imbróglio jurídico entre o cantor e plataforma iTunes, da Apple, que foi licenciada para comercializar online toda a obra de RC. Ele mandou que se notificasse à empresa que o álbum renegado não fazia parte do lote.

Dias depois , Roberto Carlos anunciou que, em coletiva à imprensa, que anistiaria Louco por você. O que não aconteceu. Até agora RC nunca especificou claramente a razão do veto. Uma das alegações mais comuns seria a baixa qualidade técnica do disco. Em suas dozes faixas nem de longe transparece o grande cantor que Roberto seria. Talvez ele não se agrade de alguns detalhes.Quem sabe, a letra do Não é por mim (Fernando Cesar e Carlos Imperial) pelos versos finais da canção que invocam um questionamento religioso impensável na obra do cantor: “E se provar que fiz você ficar tão triste/eu saberei que existe um céu/que Deus existe”.

Quando gravou Louco por você, Roberto Carlos era mais um jovem cantor em busca de um lugar ao sol. Dois anos antes, havia gravado um 78 rotações imitando João Gilberto, em duas bossas novas de Carlos Imperial, que não chegou a canto algum. Persistente, Carlos Imperial, seu padrinho artístico, abriu o caminho para que o afilhado conseguisse um contrato com a Columbia (atual Sony Music). O próprio Imperial montou o repertório do álbum, uma colcha de retalhos mal cerzida, com os principais estilos musicais que faziam sucesso na época. 

O disco traz Bossa nova, Ser bem (Carlos Imperial), e Se você gostou (Carlos Imperial e Fernando César), calipso-rock, Louco por você (Careful, careful) Paul Vance/Lee Procriss, versão de Carlos Imperial, Só você (Edson Ribeiro/Renato Corte Real), balada, Forever (Bob Marcucci/Peter de Angelis, versão Carlos Imperial), canção italiana, Solo per te (E.Minco, versão Renato Corte Real), e standard americanos, Mr.Sandman (Pat Ballard, versão Carlos Alberto), e Cry me a river, de Arthur Hamilton, em português Chore por mim (versão de Julio Nagib). Há boas  músicas, mas se mistura alho com bugalhos. 

Nem o poder de fogo do esperto Imperial, com programa em TV e rádio, conseguiu alavancar o primeiro LP do jovem capixaba. Uma das poucas capitais onde o disco fez relativo sucesso foi no Recife, destino da primeira viagem de divulgação de Roberto Carlos fora do Sudeste. Com o violão debaixo do braço, ele perambulou, de táxi, com o divulgador Fernando Borges pelas principais rádios da cidade. A caitituagem (um termo da época para divulgação) deu certo. Louco por você foi bastante executada nas emissoras recifenses.

Um disco feito com descaso pela gravadora. Em lugar da foto do cantor na capa, como seria mais simples e prático, plagiou-se, com alguns retoques (para pior) a capa do álbum To each his own, do organista americano Ken Griffin, lançado em 1946, pela Phillips (Griffin faleceu em 1956). Isto também pode ser motivo do banimento do disco, mas seria fácil trocar a capa num provável relançamento. 

Como não tem uma reedição oficial, Louco por Você é facilmente encontrado em cópias pirateadas, as vezes com faixas extras extraídas dos 78 rotações, com canções também nunca relançadas (o bolachão de 78rpm foi comercializado por aqui até 1964). Em 2020, um selo intitulado Brazilian As Anything lançou Louco Por Você em CD, com outra, e péssima, capa. Enquanto isso, o LP sessentão, em bom estado, é o disco mais valorizado do mercado de vinil do país. 


Comentários

Divulgue seu lançamento