Supersônicas

“Princesa”, a afirmação vigorosa do Carne Doce

por Tárik de Souza

terça, 11 de julho de 2017

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Macloys Aquino integrou as bandas Mersault e a Máquina de Escrever, e Salma Jô, o Gallo Power, até que, unidos como casal, resolveram fundar o Carne Doce, que fez furor desde o primeiro disco, com o nome do grupo novo, em 2014.

O segundo título dos goianos, “Princesa” (Independente), recém lançado, consolida a impressão inicial de originalidade e frescor musical do quinteto, onde a guitarra de Macloys e a voz de Jô dialogam com guitarra e sintetizadores de João Victor Santana Campos, baixo de Anderson Maia e a bateria de Ricardo Machado.

Apesar do predomínio dos rapazes no coletivo, o eu lírico é feminino – e feminista – através das letras incisivas de Jô, como a áspera “Artemísia”, entre soluços rítmicos, sobre o aborto (“não vai viver/ porque eu vivo/ sou o Deus vivo/ sua razão de ser/ de uma praga a um chá/ sabe a Índia, sabe a química/ que o seu desencarnar/ é da minha natureza”). No duplo sentido do petardo “Falo” sob guitarras e teclados esgarçados, mais farpas: “Já tá cansado da minha voz porque/ o tempo todo um timbre feminino é/ pra maioria algo enjoativo (...) quem sabe eu tô naqueles dias/ alimentando a fantasia/ de que ao falar farei justiça”. Na soturna “Sombras”, o climão é outro: “não se esqueceu de saltar a janela/ mas lhe faltou a coragem, auto-sabotagem/ uma virtude dela/ sempre soube que o vôo dispensava a janela”.

Na única faixa que não protagoniza, a instrumental “Carne Lab”, rola um laboratório de sons estranhos, psicodélicos, em voragem, e Salma questiona ao fundo: “O que a gente está fazendo neste pedaço, eu não estou entendendo? São dez minutos de fritação”. Ela quis dizer improviso, ela quis dizer musica. O que o/a Carne Doce fornece com raro talento e generosidade.

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