Conversa de MPB

'Qual é a música?': Os 90 anos de Silvio Santos e a porta para a música brasileira

sábado, 12 de dezembro de 2020

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No dia 12 de dezembro de 2020, o apresentador Silvio Santos (Senor Abravanel), dono e fundador SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), completará 90 anos. Mas este artigo não veio falar de “A Porta da Esperança”, das “Pegadinhas” (outros quadros) os aviõezinhos. Mas a pergunta que poderíamos fazer é: Quais as relações do apresentador com a música? A resposta é a de que é tarefa difícil reduzir as relações existentes entre o apresentador e seu Programa Silvio Santos com a música em seus vários estilos, cantores e cantoras e dentro das diversas atrações do Programa das tardes de domingo. 

Esta ligação pode ser dividida em diferentes contextos como as suas próprias gravações de LP’s num total de quatro álbuns: "Silvio Santos e Suas Colegas de Trabalho" (1974), "Show de Alegria" (1975), "Quinze Anos de Sucessos Carnavalescos" (1981), "Silvio Santos" (1994) além de diversos singles principalmente entre as décadas de 70 e 80. Dentre as músicas mais famosas estão a sua declaração de amor ao Sport Club Corinthians Paulista na marchinha "Transplante Corintiano", originalmente “Coração Corintiano” de Manoel Ferreira, Ruth Amaral e Gentil Júnior lançada em 1968, um ano depois da primeira cirurgia de transplante cardíaco (“Doutor eu não me engano, meu coração é corintiano”). Além desta, outras marchinhas eram anualmente reprisadas e faziam parte, muitas vezes em adaptações, da programação de carnaval da emissora SBT em todas as inserções comerciais (reclames) do período de momo. Só para citar algumas das mais conhecidas: “A Pipa do Vovô”, “Ai ai ai ui ui”, “Índio quer dançar”, “Parou porquê?”, “Marcha da Pipoca” e várias outras.


Mas as relações de Silvio Santos com a música não param por aí, tendo como foco o Programa Silvio Santos, o “Show de Calouros” (depois "Show de Variedades" e "Novo Show de Calouros") teve vida longa na emissora do apresentador como parte do Programa Silvio Santos, sendo exibido entre os anos de 1977 e 1996. Uma das marcas mais famosas do programa estava nas performances dos seus jurados, e na mistura de humor, sarcasmo e seriedade de exemplos como Pedro de Lara, do maestro Zé Fernandes, Wilza Carla, Consuelo Leandro, Manuel da Nóbrega, dentre tantos outros. Importante destaque, ainda neste quadro para as participações da cantora Cláudia Barroso, que lançou mais de 20 álbuns entre as décadas de 70 e 80 e ficou conhecida nacionalmente pelo sucesso “A vida é mesmo assim”. Um outro destaque fundamental é para a cantora Aracy de Almeida, importantíssima cantora conhecida no meio do samba inclusive participando de vários shows com importantes nomes da música brasileira nos anos 60, acabou por ver suas participações como intérprete cair no esquecimento e assumiu nos programas de calouros o estereótipo de julgadora de semblante sério e por vezes bastante raivoso, teve participações também em outros programas de calouros como "Programa do Bolinha" e "Buzina do Chacrinha".

Aracy de Almeida como jurada no programa de Silvio Santos (Foto: Reprodução)

A atração “Qual é a Música?”, no mesmo Programa Silvio Santos, fez grande sucesso nos anos 70 e 80 (sendo ainda “repaginado” nos anos 2000) trazia a disputa de cantores(as) ou grupos musicais para acertar o nome da música a partir de dicas que eram dadas pelo apresentador. Além disso, no “Leilão das Notas Musicais”, trechos de músicas eram tocados ao teclado para auxiliar na descoberta da música. Esta parte do programa ficou muito famosa também pela participação de dubladores, dentre os quais Pablo, interpretado primeiramente por Augusto Rodrigues, era personagem central ao ser perguntado: “Pablo, qual é a música?” e a música era, então, revelada. Figuras frequentemente presentes no “Qual é a Música?” eram Ronnie Von, Silvio Britto e Gretchen, dentre tantos e tantos outros.

Wando e Silvio Santos durante o quadro "Qual é a música?" (Foto: Reprodução) 

As oportunidades dadas a intérpretes de vários gêneros musicais é de se destacar no Programa Silvio Santos, o que podemos perceber na participação frequente de cantoras que estavam muitas vezes no ostracismo, ali encontravam reconhecimento, como é o caso de Moacyr Franco com “Eu nunca mais vou te esquecer” e “Filho de Maria”. A quantidade de músicos que passaram e ainda hoje passam nos palcos do programa Silvio Santos é “infindável”, e com certeza outros importantes nomes ficarão de fora. Contudo, não poderíamos deixar de lembrar que pelo palco do programa, em outros momentos dentro e fora das principais atrações nomes como Nelson Ned cantando sucessos como “Tudo Passará”, Benito de Paula com “Mulher Brasileira” e “Retratos de Cetim”, Eduardo e Silvinha Araújo, Hebe Camargo, Mara Maravilha, Toni Tornado, Roberto Carlos, Vanusa e tantos outros da Jovem Guarda, Jair Rodrigues, Cauby Peixoto, Agnaldo Rayol e a lista segue. Ao invés de perguntarmos “Qual é a música?”, mais fácil é perguntar qual é a música que não passou por lá.

Leonardo Malcher 

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