Jogada de Música

Quando o cinema e a música faziam com o futebol arte

quarta, 04 de novembro de 2020

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Entre as décadas de 60 e 70, ir ao cinema era um programa tão bom para se ver a arte do futebol, antes de um bom filme, quanto se deslocar a um estádio. Num tempo em que nem se sonhava com telões em modernas e confortáveis arenas, e a TV pouco transmitia partidas ao vivo, o cinema fez a festa dos amantes do futebol-arte. E tão importante quanto as imagens das partidas, a música se tornou um elemento fundamental para atrair toda a atenção, da cabeça aos pés e da alma à pele arrepiada do torcedor.

Até hoje as imagens do Canal 100, que eram exibidas antes dos filmes em cartaz, são reverenciadas. E se tornaram eternamente referência primordial para cinegrafistas e diretores de TV. Quando se fala em Canal 100, a primeira coisa que vem à cabeça é a música “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira. Fundador em 1959 do cinejornal, Carlinhos Niemeyer pediu a Waldir Calmon a composição que o maestro havia orquestrado e gravado dois anos antes para servir de trilha sonora para as cenas do futebol que encerravam o cinejornal. A tabelinha entre imagem e som foi magistral e ainda está na memória de muita, muita gente.


A música de Bandeira orquestrada por Calmon é um dos exemplos típicos daquelas que nasceram sem qualquer relação com o futebol e acabaram intimamente ligadas ao chamado esporte bretão. Tanto, que aos versos que retratavam apenas uma roda de samba, foi incluído no fim dos anos 60 um refrão futebolístico muito utilizado nas narrações de gols por emissoras de rádio em todo o país: “Que bonito é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando, vendo a rede balançar” substituiu na memória popular “Que bonito é ver um samba no terreiro, assistir a um batuqueiro, numa roda improvisar” ou “Que bonito é a mulata requebrando, os tambores repicando, uma escola desfilar”.

Porém, a relação entre cinema, futebol e música não se restringe ao magnífico Canal 100. Criado em 1941 pela Atlântida Cinematográfica, que teria Luiz Severiano Ribeiro Jr. como sócio majoritário a partir de 47, o cinejornal Atualidades Atlântida já fazia desde os anos 50 imagens dos mais variados esportes. No entanto, foi na década de 70 que também chegou junto no futebol, com a mesma qualidade do “concorrente”.

  • SAMBA VOCALIZADO (faixa 5)

Se não teve a mesma duração e o mesmo destaque do Canal 100, a sessão de futebol do cinejornal Atualidades Atlântida também caprichou na escolha de sua trilha sonora. A música “Samba vocalizado”, de Luciano Perrone, é uma daquelas muitas obras-primas que ficam por anos adormecida para um dia, quem sabe, retornar com a força total que merece.

Gravada no LP “Batucada fantástica – Volume 3”, de 1972, este samba percutido pela voz do próprio Perrone e pelos instrumentos dos seus ritmistas, sem letra alguma (como as demais músicas do extraordinário álbum), quase se concretiza num drible, num lançamento genial, numa tabelinha sensacional, num sem-pulo inesperado, num corta-luz surpreendente, numa cabeçada certeira, naquela bola chutada como se fosse com a mão no ângulo do goleiro que voa em vão. Um golaço, aço, aço da triangulação entre cinema, futebol e música.


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