Almanaque do Rock Brasileiro

Revolta dos Dândis: o Rock solar e soturno

quarta, 26 de outubro de 2022

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Quando falamos em qualquer coisa no Rock ou música popular, automaticamente pensamos no eixo Rio-São Paulo. Porém, nos anos 80, Brasília se mostrou; nos anos 90, veio Minas Gerais e o Nordeste; mas, majoritariamente, o eixo se manteve dominante.

Por isso, é estranho pensar em um grupo fazer sucesso sendo do sul e trazendo o Rio Grande do Sul em peso para sua música. Tá certo que no disco “A Revolta dos Dândis", o “Sul” não foi tão presente assim na música dos Engenheiros do Hawaii como estaria anos mais tarde. Na verdade, esse é um disco muito Rock, e promove um namoro velado da New Wave com o Rock Progressivo.

Esse é um long que talvez não seja o mais fácil ou radiofônico, mas se você ouvir da primeira vez, não vai querer parar.

Os anos 80 serviram para mostrar que no Brasil existia música muito além do eixo Rio-São Paulo e que era possível se fazer um grande sucesso no Rock sem ser carioca ou paulista e sem copiar o que vinha desses dois estados. Embora esse disco tenha um pezinho no eixo, ele incrivelmente chegou a ter sucesso comercial sem ser comercial.


Entre o Solar e o Soturno

Em primeiro lugar, não é à toa que a banda leva o nome de Engenheiros - a precisão dos três integrantes chega a incomodar de tão perfeita. Cada um em seu instrumento consegue ter uma perfeição particular que juntos fazem algo incrível.

Eu não sou de puxar saco de músico, mas Maltz, Licks e Gessinger são um grupo de rock mundial, sem dever nada a ninguém.

É engraçado que o disco não é nem um pouco radiofônico, letras enormes, passagens instrumentais misturando New Wave com Progressivo, a fórmula perfeita para não dar certo mas escapou do flop.

O que não era POP ficou muito POP, afinal “Infinita Highway” com seus seis minutos ser a música de trabalho seria um risco tremendo, porém até hoje é considerada um hino dos anos 80, e de fato transmite um ar de liberdade sem igual.

Outro hino pouco provável poderia ser o “Folk Elétrico”, que hoje talvez seja ainda mais popular do que a música citada anteriormente e “Terra de Gigantes”, porém dessa vez eles acertaram a mão.

Essas músicas trazem uma aura um pouco mais solar, para um disco que tem uma pegada soturna.

E talvez essa temática menos comercial pode ter feito o disco menos lembrado com o passar dos anos, porém rendeu boas canções que formam um álbum muito coeso e sólido.

Na verdade, não sei se seria soturno ou sombras na luz solar, canções como “Além dos Out-Doors” e “Guardas da Fronteira” não me deixam mentir, e revelam em si um tom misterioso e obscuro.

Talvez as recomendações para esse disco fiquem para o sucesso tardio de “Refrão de Bolero”, curiosamente com uma pegada um pouco mais comercial, mas só foi fazer sucesso anos depois.

Outra canção que expressa bem o que é esse disco com certeza é “Filmes de Guerra, Canções de Amor”. Ela começa de maneira bem sombria, bem misteriosa, mas quando ganha forma a faixa ganha até uma bateria de escola de samba. Essa música é exatamente o nascer e o fim de dia. Ou seja, transita entre os dois lados.

A conclusão é que: "A Revolta dos Dândis" é um dos maiores discos dos anos 80, e fico feliz que pouco a pouco ele venha a ser redescoberto e ganhar o valor que ele merece.

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