Roberto Carlos 80: ‘as músicas de motel’ do Rei
CAPÍTULO 1
Para celebrar os 80 anos de Roberto Carlos, completados no próximo 19 de abril, o IMMuB vai trazer uma série especial de artigos com playlists comentadas sobre algumas canções temáticas que o Rei produziu ao longo de sua carreira.
Para começar, falamos sobre um conjunto de músicas que para muitos elevaram Roberto à categoria “cantor de motel”. São faixas sensuais, carregadas de um romantismo erótico, que falam sobre a intimidade de casais na cama (ou em outros cantos da casa), que passaram a proliferar em seu repertório a partir dos anos 1970, acompanhando um processo de amadurecimento de Roberto enquanto homem e artista, todas feitas em parceria com Erasmo Carlos.
“Proposta” (1973)
Desde o início de sua carreira, Roberto Carlos sempre foi muito romântico. Mas quase sempre falava de um amor inocente, ingênuo, juvenil. Juras de amor, decepções amorosas, paixões platônicas ou beijos roubados no cinema. Foi em 1973, quando estava com 32 anos de idade, que ele começou a ambientar suas músicas em um cenário mais erótico e sensual. Com “Proposta”, ele inaugurou sua face “cantor de motel”. Feita em parceria com Erasmo, a música descreve um convite tentador à amada: “Eu te proponho/ Te dar meu corpo/ Depois do amor/ O meu conforto…”.
“Seu Corpo” (1975)
Dois anos depois, Roberto voltou ao tema erótico com “Seu Corpo”. A música, ainda mais sensual que “Proposta”, descreve uma viagem quase cinematográfica pelo corpo nu da amada, no qual ele se perde para se encontrar: “No seu corpo é que eu encontro/ Depois do amor o descanso/ E essa paz infinita/ No seu corpo minhas mãos/ Se deslizam e se firmam/ Numa curva mais bonita...”
“Os Seus Botões” (1976)
Em 1976, Roberto estava no auge de sua afirmação “cantor de motel”. Basta olhar a capa do disco lançado por ele nesse ano: ele aparece deitado em uma rede branca, com paletó e chapéu também brancos, e uma insinuante rosa vermelha na lapela, no melhor estilo latin lover. No repertório do álbum destaca-se “Os Seus Botões”, que relata a primeira noite de um casal em um quarto de motel. A letra descreve quase em câmera lenta o momento em que a mulher passa a abrir os botões da blusa, revelando pela primeira vez os detalhes do seu corpo. Em meio a isso, a descrição de um cenário dos mais íntimos: lençóis macios, roupas espalhadas pelo chão, travesseiros soltos, a chuva lá fora… provavelmente acendeu a imaginação de muita gente na época.
“Cavalgada” (1977)
Em 1975, Roberto Carlos ouviu uma nova canção de Chico Buarque, lançada na voz de Maria Bethânia. “Sem Açúcar” é mais uma daquelas músicas em que a mulher submissa do malandro narra a relação tempestuosa com o amado, no estilo de “Com Açúcar, Com Afeto”. Um dos versos chamou muito a atenção de Roberto: “Longe dele eu tremo de amor/ Na presença dele me calo/ Eu de dia sou sua flor/ Eu de noite sou seu cavalo”.
Ele achou bonita e forte a metáfora hípica e decidiu compor uma canção explorando essa ideia, mas do ponto de vista masculino. Assim nasceu “Cavalgada”, que ao longo dos anos se consagrou como um dos seus maiores clássicos: “Vou cavalgar por toda a noite/ Por uma estrada colorida/ Usar meus beijos como açoite/ E a minha mão mais atrevida/ Vou me agarrar aos seus cabelos/ Pra não cair do seu galope/ Vou atender aos meus apelos/ Antes que o dia nos sufoque”.
“Café da Manhã” (1978)
Com o sucesso de “Os Seus Botões”, Roberto resolveu criar uma nova canção no mesmo cenário de um quarto de motel desalinhado pela zoeira dos amantes. Assim surgiu “Café da Manhã”, em que um homem convida a namorada para passar o dia fazendo amor, deixando para trás o trabalho e até as refeições: “Amanhã de manhã/ Nossa chama outra vez tão acesa/ E o café esfriando na mesa/ Esquecemos de tudo/ Sem me importar/ Com o tempo correndo lá fora/ Amanhã nosso amor não tem hora/ Vou ficar por aqui…”
“Cama e Mesa” (1981)
Até hoje um dos seus grandes sucessos, “Cama e Mesa” fala da entrega total de um homem à mulher amada, que faz dela sua vida, comida e bebida, com alguns dos versos mais insinuantes de toda a sua discografia até então, como: “Quero estar na maciez do toque dos seus dedos/ E entrar na intimidade desses seus segredos”, ou: “Eu como e bebo do melhor e não tenho hora certa/ De manhã, de tarde, à noite, não faço dieta”.
“O Côncavo e o Convexo” (1983)
Apesar de todas essas sugestões líricas e imagéticas, Roberto percebeu que nunca havia usado a palavra “sexo” em nenhuma de suas músicas. Decidiu, então, dar esse passo à frente na canção “O Côncavo e o Convexo”, que relata o encaixe perfeito entre os corpos de dois amantes. E nela finalmente, aparecia a palavra tabu: “Cada parte de nós, tem a forma ideal/ Quando juntas estão, coincidência total/ Do côncavo e o convexo/ Assim é nosso amor no sexo”.
“Pelas Esquinas da Nossa Casa” (1985)
Composta na época em que Roberto estava casado com a atriz Myrian Rios, a música fala de um casal que, ao se encontrar, sai fazendo amor por diversos cantos da casa antes de chegar ao quarto, o “destino dos amantes”: “Vamos nós nesse carinho/ Mas paramos no caminho/ Dessa vez no corredor/ Mãos e abraços, que doçura/ Mais abaixo ou na cintura/ Tudo é sempre sedutor”.
“Porque a Gente Se Ama” (1990)
Roberto Carlos disse certa vez que suas três coisas preferidas na vida são “sexo, sexo com amor e sorvete”. À segunda atividade ele dedicou a canção “Porque a Gente Se Ama”, que fala de um sentimento que “dá e não passa” e precisa ser satisfeito em sua plenitude. Se antes a palavra “sexo” era inexistente em sua obra, nessa música ela aparece repetidas vezes, desde os sugestivos primeiros versos: “O sexo e o meu coração andam juntos/ Só se alimentam de amor, comem juntos”.
“Vou Chegar Mais Cedo Em Casa” (2017)
Em um recente reencontro de Roberto e Erasmo, em um EP de 2017, a dupla buscou tratar novamente da temática de um casal que sonha com a hora de se encontrar para se amar em casa, como fizeram em “Pelas Esquinas da Nossa Casa” ou “Rotina”. Mas se as primeiras retratam um casal no auge da paixão, que nem espera chegar ao quarto para começar, em “Vou Chegar Mais Cedo Em Casa” o amante é mais paciente e parece preferir as preliminares: “Me receba com carinho/ Me esfregue as costas no banho/ Me dê um copo de vinho/ Ponha o que tiver na mesa/ E se sente do meu lado...”. Mas no final, ele deseja o mesmo que os personagens das canções de outras décadas: “Vou me embriagar de beijos/ E me alimentar de amor/ Abusar do seu carinho/ Desfrutar do seu calor”.
Lembrou de mais alguma canção do Roberto que fala desses momentos entre quatro paredes? Não deixe de comentar aqui com a gente!
Texto por: Tito Guedes
Esse texto faz parte de uma série em homenagem aos 80 anos de Roberto Carlos, com playlists comentadas de várias músicas temáticas compostas pelo Rei. Confira todos os capítulos desse especial:
Capítulo 1: A "músicas de motel" do Rei (lendo agora)
Capítulo 2: As mensagens religiosas
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