Supersônicas

Sacramento e Alcofra reverenciam Aracy de Almeida, “A rainha dos parangolés”

por Tárik de Souza

sexta, 23 de fevereiro de 2018

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?Ícone feminino da implantação do samba e da malandragem na era do rádio, a carioca Aracy (Teles) de Almeida (1914 - 1988) tem o repertório reinterpretado pelo cantor Marcos Sacramento e o violonista Luiz Flavio Alcofra no CD “A rainha dos parangolés” (Acari Records), gravado e mixado entre 1 e 4 de agosto de 2017, no Estúdio Raphael Rabello/ Casa do Choro.

A idealização e direção do projeto é do produtor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, amigo íntimo da cantora de voz anasalada e entonação bluesy, a quem apelidou de “Arquiduquesa do Encantado”, por reinar num casarão do homônimo subúrbio carioca. Capaz de conviver tanto com a malandragem pesada da Lapa (Miguelzinho, Meia-Noite) quanto com luminares da intelectualidade como Di Cavalcanti, Portinari, Paulo Mendes Campos, Augusto Rodrigues, ela lia com a mesma desenvoltura o poeta marginal Augusto dos Anjos e a Bíblia Sagrada, como informa Pedro Paulo Malta no texto do encarte.

 Fonte da Imagem: Olhar Brasileiro | Fotografia de Alexandre Pavan

O repertório abre alas numa pungente recriação de Sacramento da dissonante “Triste cuíca”, de Noel Rosa (com Hervê Cordovil). O gênio da Vila Isabel, que elegeu Aracy sua porta voz, é evocado ainda no premonitório “Século do progresso” (“O revolver teve ingresso/ para acabar com a valentia”), “Pela décima vez” (com Cristóvão de Alencar), “Coisas nossas”, “Último desejo” (com Vadico), “O orvalho vem caindo” (com Kid Pepe), a dupla corrosiva, “Filosofia” (com André Filho) e “Onde está a honestidade?” e “Adeus” (com Ismael Silva e Francisco Alves). Só a antologia noelesca já valeria o disco, junto com o apuro vocal de Sacramento e o violão essencial de Alcofra, mas há mais. Pérolas inolvidáveis do rival de Noel, Wilson Batista, “Louco (ela é seu mundo)” (com Henrique de Almeida) e “Ganha-se pouco, mas é divertido”, com o mesmo Ciro de Souza, do clássico “Tenha pena de mim” (com Babahú), também incluído. E ainda, dois preciosos sambas de Ary Barroso (“Não sou manivela”, “Camisa amarela”), o saboroso “Engomadinho” (Pedro Caetano/ Claudionor Cruz) e o samba canção “Quando tu passas por mim”, de 1953, que marcou a volta do amigo da cantora, o poeta e diplomata Vinicius de Moraes, à música popular, em parceria com outro afetuoso cupincha de Araca, o cronista e compositor Antonio Maria. 


Fonte da Imagem: O Fluminense | Divulgação

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