Colunista Convidado

São bonitas as canções na voz de Sérgio Santos

quarta, 17 de julho de 2019

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Mineiro de Varginha, Sérgio (Correia dos) Santos além de eloquente compositor é violonista, arranjador e interprete de sua própria obra, tendo como principal parceiro Paulo Cesar Pinheiro. Por culpa do guichê fechado do mercado ao que não seja banal, a partir dos anos 80, ele é menos conhecido do que deveria. Isso, apesar da discografia expressiva, com títulos como “Aboio” (1995), “Mulato” (1998), “Áfrico – Quando o Brasil revolveu cantar” (2001), “Iô sô” (2007), “Litoral e interior” (2009) e “Rimanceiro” (2013). Nestes discos e, por exemplo, na “Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião”, de Francis Hime, sua performance como cantor já tinha sido provada com louvores. Mas no CD “São bonitas as canções” (Kuarup) ela se sobressai. Mais que isso. O quarteto de ases formado por André Mehmari (piano), Rodolfo Stroeter (baixo), Tutty Moreno (baixo) e Nailor “Proveta” de Azevedo (clarineta, saxes alto e soprano), mostra-se mais parceiro que acompanhante do grande músico que é Sergio. Ele mergulha com gosto nos improvisos do grupo, que alongam as composições com comentários de corte jazzístico ou mpbista, e emerge com sua voz sempre afiada, emotiva e precisa.

Numa época em que a canção é bombardeada pela contundência reiterativa do hip hop e pelo desalinhavo estilístico do pop fabricado, o precioso CD de Sérgio reafirma a artersania de nossos compositores de várias épocas e latitudes. A começar pelo samba canção inaugural “Linda flor” (Henrique Vogeler/ Luiz Peixoto/ Marques Porto/ Cândido Costa), de 1929, propagado pela estrela do teatro de revista Aracy Cortes. Passa também por “Saia do caminho” (Custódio Mesquita/ Ewaldo Ruy), outro samba canção dolorido, sucesso de 1946, de outra Araci, a de Almeida, a eleita de Noel Rosa.

Afro jazzista projetado no ambiente fértil da bossa, o maestro Moacir Santos esbanja suas angulosidades rítmicas na obra prima “Maracatu Nação do Amor”, letra posterior de Nei Lopes para seu original em inglês, “April child”, lançado no disco “The maestro”, de 1972. Tom Jobim, em letra e música, é escalado com seu auto-definido ‘choro canção’ “Falando de amor, obra posterior à bossa, desvelada por ele em duo com Miúcha, em 1979. Chico Buarque é o autor com mais aparições no roteiro. Fez letra e música de “Samba e amor” (numa releitura degustada em mais de seis minutos) e “Futuros amantes” e só letra na parceria com Edu Lobo, “Choro bandido”, da abertura, de onde foi pinçado o título ”São bonitas as canções”. Personagem raro neste tipo de antologia, Taiguara tem revisitada sua bela “Terra das palmeiras”, ao lado da densa (e pouco óbvia) pérola de um inicial Milton Nascimento, “Tarde” (com Marcio Borges) e da filosófica “Preciso aprender a só ser”, de Gilberto Gil, réplica ao romantismo alado de “Preciso aprender a ser só”, da dupla de irmãos, Marcos e Paulo Sérgio Valle

Na viagem por belas melodias e interpretações superlativas estão incluídas ainda uma composição do pianista André Mehmari (“Apenas o mar”) com o vate luso Tiago Torres da Silva e mais ”Velho piano”, de Dori Caymmi, letrada por Paulo Cesar Pinheiro, o mesmo parceiro do próprio Sérgio Santos em sua “Nenhum adeus”. É o momento do disco que acopla a grandeza do intérprete à do compositor.

Por: Tárik de Souza


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