Sim, autores também usam crachá
É muito comum que em lançamentos de obras coletivas a mesa de autógrafos fique reservada para os organizadores. Como leitor, sempre questionei essa postura. Porém, essa dinâmica já está estabelecida e não é uma coisa restrita ao Brasil.
Quando lançamos em janeiro de 2014, pela Editora Sonora, a obra “1973 o ano que reinventou a MPB”, com mais de 50 autores, falando de mais de 50 LPs, o alarme tocou. Na minha cabeça, era inconcebível eu, o organizador, estar sozinho naquela mesa enorme. Pensei em ter adesivos com a capa do livro, com a palavra "autor". Mas, uma das autoras, Aimée Louchard, com propriedade ponderou: "eu sou autora". Fora que adesivos poderiam danificar roupas. Chegamos a conclusão que o melhor seria usarmos crachás, individualizados. Pedi ao amigo e designer Paulo Ramos para ajudar na obra. A capa do livro e embaixo o nome do autor e da autora. E a mesa de autógrafos? Ficaria, como ficou, de base para vez ou outra autores e autoras autografarem. Só na noite do Rio fomos mais de 30 autores, contando com alguns paulistas e mineiros.
Não havia filas. Os autores ficavam no salão e eram identificados pelos presentes. Na primeira noite, na Travessa do Leblon, com a segunda em São Paulo, a mesma dinâmica. E nas duas noites, ficamos até sermos “expulsos”.
Em 2022, nos primeiros lançamentos de “1979 o ano que ressignificou a MPB”, que reúne resenhas sobre 100 LPs lançados neste ano, a dinâmica manteve-se a mesma. Só que agora os autores e autoras já contavam com seus crachás. Nos três primeiros lançamentos, na Travessa do Leblon, no Travessa de Icaraí (Niterói) e na Travessa de Pinheiros, a mesma festa. Sim, não são noites e tardes de autógrafos, são festas de autógrafos.
Nesses lançamentos é muito comum autores trocando autógrafos, conhecendo-se. E, outros fatos mais interessantes acontecem: personagens que estão no livro, como Antonio Adolfo, Zé Renato (Boca Livre) e a dupla Jaime Além e Nair Cândia aparecem para a festa e também distribuem autógrafos nos capítulos que estão seus LPs.
Obras como “1979” são construções coletivas, de fato. Até parte dos leitores, antes mesmo do livro ser impresso, participaram de sua confecção, já que o livro foi feito através de campanha de financiamento coletivo, capitaneado pela Garota FM Books.
A música é a grande senhora da obra. Heterogênea que só tem entre seus e suas articulistas, compositores, pesquisadores, músicos e jornalistas. Gente de vários cantos do país, de faixa etária muito variada (25 até 84 anos). No corpo do livro, discos de Elis Regina e Gretchen, por exemplo.
E como numa obra assim tão rica, tão plural restringir a “mesa” de autógrafos. “1979” só é o que é porque foi construído com o talento e a dedicação de todos. Dos jovens talentos como Tito Guedes e Maria Carolina a expoente do jornalismo musical como José Emílio Rondeau, Lorena Calábria, Mauro Ferreira, Rodrigo Faour, Hugo Sukman, Leonardo Lichote, Silvio Essinger e Roberto Muggiati. Somos mais de 100, somos mais de 200 mãos que doaram seus talentos.
Dos primeiros passos do projeto, quando era só projeto, da luta com a agente Monica Maia, que durante muito tempo tentou viabilizar o livro de forma convencional até a entrada de Chris Fuscaldo com sua Garota FM para mergulharmos nessa tarefa “alucinada”, foram muitos dias de lutas e glória.
Saímos vitoriosos. E só saímos vitoriosos porque não lutamos sozinhos. A festa é de todos e todas. As noites de autógrafos também. Para identificar é só olhar o nome no crachá. Nos vemos por aí...
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