Tom Zé - O poder da síntese

Show no Circo Voador

domingo, 23 de outubro de 2016

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Sábado a noite, chego na porta do Circo as 23h com medo da confusão, do calor e talvez do atraso. Estava todo errado. Chuviscava, a porta estava vazia e nem sinal de começar o show. Fui tomar uma cachaça de gengibre e entrei quase uma hora depois. Apesar do clima ameno, era uma noite de festa, o Circo comemorava 34 anos e Tom Zé 80. Logo na entrada, o público podia retirar um livro de mais de 600 páginas sobre a história do Circo, escrito por sua eterna produtora/curadora Maria Juçá, um presentão. Ao entrar estava sendo exibido um filme contando a mesma história do livro: Circo Voador - A Nave.

Eis que ao final da exibição, Jucá sobe ao palco para introduzir o show e com um discurso politicamente inflamado fala por uns 15 minutos. Primeiramente… brada, “Não sou a Hillary Clinton, sou a Madame Satã”. Pronto, tudo lindamente contextualizado para a chegada do Tom Zé. Ele entra, de macacão e banda, com a simplicidade de sempre. E chega falando, explicando; contextualizando a obra. Sim, ainda não mencionei o motivo mais importante do show: O lançamento do novo álbum “Canções Eróticas de Ninar - Urgência Didática”.

São canções que Tom Zé já desenvolve e apresenta desde 2014. Todas falando de sexo. A pegada é forrózinho, bem arrasta-pé. Somada com toda a dinâmica particular de suas melodias e letras. O show é composto por 80% das músicas do disco novo. Só lá pela quinta música ele solta uma mais antiga, é “Augusta, Angélica e Consolação”. 

Antes disso rolou a que ele considera ser o hit do disco “Sobe Ni Mim”. Se bem que emplacar hits nunca foi o seu forte, o hit é toda a sua obra. E é assim que ele constrói o repertório desse novo álbum; tudo bem explicadinho. Toda a evolução do sexo e da mulher na visão desse baiano que teve sua infância na década de 40 e viveu toda essa transformação.  

“Esse assunto de sexo tem muita segregação com a mulher”, explicando por que foi muito difícil fazer o álbum. Diversas vezes parava as músicas para cantar letras proibidas, que foram substituídos, por ele achar inadequadas. Por tocar num tema delicado, mostrava uma constante preocupação pelas mulheres, não queria ofendê-las. 

E nessa ele foi conectando o Circo, com 60% de ocupação e o publico na casa dos 30-40 anos. Transformando sua aparição num história bem contada. Eu nem tinha ouvido o disco novo e saí de lá entendendo tudo. Fui embora digerindo a possível sensação tardia de ter feito parte de uma noite histórica. 

por João Fernando Azevedo, colunista convidado.

Agradecimento especial a equipe do Circo Voador e ao Tom Zé pelo show inesquecível.

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