Tudo passará (menos o seu legado): Nelson Ned, um dos principais românticos da música brasileira

Nelson Ned d’Ávila Pinto, mais conhecido apenas como Nelson Ned, nasceu em Ubá, Minas Gerais, no dia 2 de março de 1947. Ganhou a alcunha de Pequeno Gigante da Canção Brasileira. Ficou conhecido por compor e cantar músicas românticas, narrando desilusões amorosas, com amores rasgados, e por conta disso foi taxado de cafona.

Roberto Carlos e Nelson Ned

Em 1962, Nelson Ned começou a trilhar a carreira como artista, no Rio de Janeiro. Entretanto, antes de virar profissional, Nelson Ned frequentava o apartamento dos irmãos Márcio e Lô Borges, em Belo Horizonte - sim, o mesmo apartamento onde Milton Nascimento ia, como narra Paulo Cesar de Araújo em seu livro “Eu Não Sou Cachorro, Não”. Nelson Ned passou por muitas dificuldades no início da carreira, principalmente por conta de sua condição física: ele tinha displasia espondiloepifisária, tinha uma baixa estatura.

“Tamanho não é documento
Pelo menos tenho sentimento
Mas isso, isso é coisa que você não tem”

A sua condição foi usada como maneira de marketing pela sua primeira gravadora, a Polydor, onde gravou, em 1964, o LP chamado “Nelson Ned: um Show de Noventa Centímetros”, em que aparece de smoking. Contudo, apesar dos esforços da gravadora em apelar para o nanismo na divulgação do disco, Nelson Ned não conseguiu o sucesso que esperava e assim foi dispensado pela Polydor.

Capa do primeiro LP de Nelson Ned

Felizmente, como hoje sabemos, Nelson Ned não desistiu e procurou outras gravadoras. Então, em 1969, conseguiu lançar um compacto pelo selo Copacabana. As duas músicas presentes eram "Domingo à Tarde" e "Tudo Passará'', e assim ele conseguiu alcançar o tão esperado sucesso. Provavelmente, ''Tudo Passará'' é a canção mais famosa de Nelson Ned, e possui mais de 40 regravações, em 10 idiomas diferentes, como Paulo Cesar de Araújo nos mostrou em sua pesquisa.

“Mas tudo passa, tudo passará
E nada fica, nada ficará
Só se encontra a felicidade
Quando se entrega o coração”

Nelson Ned ficou famoso pelas músicas românticas e fez sucesso fora do Brasil. Inclusive, lotou o Carnegie Hall, em Nova York, mais de uma vez e era bastante idolatrado pelos países da América Latina. Também gravou discos em espanhol. Uma prova desse sucesso era que ele teve um certo fã colombiano que também é bastante conhecido: Gabriel García Márquez. O escritor nunca escondeu ser fã do cantor e compositor brasileiro. Apesar de aqui no Brasil Nelson Ned ser tratado como cafona, vemos que fora do país ele é bastante respeitado.

“Será que o amor é isto
Será que o amor é assim
Será que o amor vive disto será
Será que que amar é ruim”

Nelson Ned em apresentação

Como foi dito anteriormente, Nelson Ned cantava o que compunha, e suas músicas são cheias de sofrimento e tristeza por razões amorosas. Talvez isso ajude a explicar seu sucesso, visto que ele cantava sobre um sentimento bastante comum. Todo mundo nessa vida só sofreu por amor, o romantismo nunca está fora de moda porque é impossível viver sem o amor. Independente de classe social, você já baixou a cabeça e deixou as lágrimas rolarem por conta de uma desilusão amorosa e Nelson Ned representou isso muito bem em suas canções.

“Hoje eu me vi no espelho
E nem meu próprio rosto eu reconheci
Só pude ver na sombra triste dos meu olhos
O quanto eu já perdi”

Nelson Ned nos deixou no dia 5 janeiro de 2014. Ele estava internado em decorrência de uma pneumonia, no Hospital Regional de Cotia, em São Paulo. Já estava bastante debilitado mas continuava lutando, como lutou a vida toda, contra o preconceito que sofreu por causa de sua condição. Nosso país ainda é bastante preconceituoso com o diferente mas Nelson contornou isso com seu talento, sempre sem medo de se impor e mostrar sua arte e será sempre lembrado como um dos principais românticos desse país.

“Quando eu estiver chorando
É que estou desabafando
A saudade que ficou aqui
Eu não quero dar explicações
Vou chorar as minhas emoções
E a felicidade que eu perdi”