Tema do Mês

Uma Viagem a Paulo César Pinheiro

Por Ana Carolina Alvarenga

segunda, 01 de abril de 2024

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Neste mês de abril, um dos maiores letristas da música popular brasileira completa 75 anos e nada mais justo que uma homenagem ao poeta

Com uma trajetória multifacetada que atravessa gerações, Paulo César Pinheiro emerge como um verdadeiro ícone da cultura brasileira. Multitalentoso, suas habilidades como compositor, poeta, músico, romancista, produtor de discos, dramaturgo e cronista transcenderam os limites do convencional, moldando uma carreira repleta de realizações. Ao longo de seus 75 anos de vida, Pinheiro não apenas se destacou como um dos maiores letristas da música brasileira, mas também estabeleceu-se como um verdadeiro contador de histórias. Desde os 13 anos de idade, quando começou a escrever poemas intuitivamente, até os dias de hoje, PCP personifica a essência de um poeta atemporal, cuja arte transcende barreiras culturais, deixando sua marca na música, mas também um legado de parcerias, colaborando com mais de 120 artistas ao longo de sua vida. 

O jovem PCP

Nasceu onde seria atualmente a região do Complexo da Maré, mas seu coração é de São Cristóvão, bairro onde foi morar a partir dos 10 anos, onde escreveu sua primeira composição em parceria com seu vizinho João de Aquino. “Viagem" foi escrita quando Paulo tinha 14 anos e encantou o primo de João, ninguém menos que Baden Powell. O violonista ficou muito impressionado com o talento do letrista com tão pouca idade e passou a levá-lo para a noite e apresentá-lo para toda a nata da música brasileira. 

Paulo César e Baden 

Sua amizade com Baden, além de o conduzir à Boemia Carioca, trouxe o seu primeiro sucesso: “Lapinha”, que venceu a I Bienal do Samba de 1968 da TV Record, sendo performada por Elis Regina. A música é uma releitura de uma cantiga popular criada no início do século XX por uma figura crucial para entender a carreira de Paulo César Pinheiro: o Capoeirista Besouro, que foi posteriormente uma inspiração para o disco Capoeira de Besouro (2010) e para a sua primeira obra como dramaturgo, a peça Besouro Cordão de Ouro. Com a produção teatral, ganhou o Prêmio Shell de Melhor Música em 2008.  

A peça "Besouro Cordão de Ouro" 

No final dos anos 1960 e no início dos 70, participou de outros festivais e compôs trilhas para teatro, cinema e televisão. Continuou escrevendo sucessos com Baden Powell, como “Refém da Solidão”, “Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaqua)” e “Aviso aos Navegantes”. Nesta época, aumentou o seu catálogo de parceiros de composição, colaborando com Francis Hime, Dori Caymmi, Pixinguinha, Tom Jobim e outros. 

Em 1975, gravou o disco O Importante É que Nossa Emoção Sobreviva com a cantora Márcia e Eduardo Gudin, derivado do show de mesmo nome. No mesmo ano, casou-se com Clara Nunes, que foi sua maior intérprete. As canções mais populares na voz de Clara, como “As Forças da Natureza”, “Canto das Três Raças" e “Portela na Avenida", têm a composição de Paulo. Se separaram com a morte da mineira, em 1983. 

Paulo César e Gudin

Apesar de muitos frutos na década de 70, sofreu com as repressões da Ditadura Militar Brasileira, porém arrumou maneiras de driblar a censura sofrida. Compôs com Maurício Tapajós o que logo se tornaria um dos hinos da guerrilha do Araguaia, a canção “Pesadelo”, interpretada pelo MPB4

Paulo César Pinheiro se considera um operário da música e costuma falar sobre o ato da criação, que acredita ser um dom, em muitas de suas letras, como na Tríade do Samba com um de seus grandes parceiros de composição, o célebre João Nogueira. São três músicas lançadas entre 1979 e 1981 ( “Súplica”, “Minha Missão” e “O Poder da Criação”), que abordam desde a inspiração para compor até o cantar em si. 

Paulo César e João Nogueira

Em 1983, lança o LP Poemas Escolhidos, registrando 33 poemas de sua autoria. Tem alguns livros publicados, como Canto Brasileiro (1973), Viola Morena (1984), Atabaques, Violas e Bambus (2000) e Matinta, O Bruxo (2011). Esse último foi escrito baseado em suas composições “Sagarana” e “Matita Perê”, que inclusive são homenagens à Guimarães Rosa, um de seus ídolos na literatura.

Mesmo sem ter religião, diz ter fascínio pelas manifestações do Candomblé e da Umbanda e escreveu músicas de todos os tipos de doutrinas religiosas. Além das inspirações fortes nas religiões de matriz africana, a presença de elementos da cultura afro-brasileira é muito forte na obra de PCP. Uma das suas maiores contribuições relacionadas a esse movimento cultural é o álbum “Afros e Afoxés da Bahia” (1988) . Feito com Edil Pacheco, é uma homenagem aos histo?ricos blocos baianos e seus ritmos, nas vozes de grandes nomes da mu?sica brasileira, como Gilberto Gil e Margareth Menezes

Em 1985, se casou com Luciana Rabello, cavaquinista e compositora, que se tornou uma grande intérprete de suas letras. Vários familiares de Rabello também colaboraram com Pinheiro ao longo dos anos. Seus filhos, Ana Rabello Pinheiro e Julião Rabello Pinheiro,  também são músicos e a arte é o pilar fundamental da família que formaram.

Paulo César e Luciana Rabello

Em 2002, foi premiado, juntamente com Dori Caymmi, com um Grammy Latino na categoria de Melhor Canção Brasileira, por “Saudade de Amar”. No ano seguinte, recebeu o Prêmio Shell pelo conjunto da obra, e lançou o disco “O Lamento do Samba”. Paulo César Pinheiro mostrou-se um verdadeiro mestre da música brasileira, inspirando gerações com a sua poesia e a sua melodia.


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