Tema do Mês

Velhos Novos Baianos - 50 Anos Depois

por Caio Andrade

sexta, 08 de julho de 2022

Compartilhar:

No mês de aniversário de Baby do Brasil e Moraes Moreira, o IMMuB irá trazer como tema a trajetória dos baianos que deixaram sua marca na memória musical brasileira a partir do fim dos anos 1960. Acabou Chorare, o segundo disco do grupo, é considerado o maior álbum da história da música brasileira pela Rolling Stone Brasil e completa 50 anos de lançamento em 2022. Preta pretinha, esquentai os vossos pandeiros enquanto corria a barca!


Os Novos Baianos

O pontapé inicial do grupo foi com o espetáculo “Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio”, de 1968, em Salvador. A apresentação ficou a cargo de Galvão, Moraes Moreira, Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes. Posteriormente, ganhariam a adição também dos músicos Dadi (integrante um tempo depois do grupo A Cor do Som), Jorginho, Baixinho e Bolacha.

Lançaram o primeiro álbum em 1970, “É Ferro na Boneca”, com destaque para a faixa-título e a canção “De Vera”. O álbum ainda tinha uma pegada muito forte de rock e psicodelia e não fez tanto sucesso. Após alguns encontros com ninguém menos que João Gilberto no apartamento em que viviam em Botafogo, tudo se encaminha para a gravação do segundo álbum, “Acabou Chorare”.

Em 1972, lançam um álbum com sonoridade bastante diferente, sem guitarras e com uma desconstrução do samba. A primeira faixa, “Brasil Pandeiro”, de Assis Valente, foi apresentada por João Gilberto e tornou-se um dos maiores sucessos do grupo, além de reviver o compositor que tinha falecido há quase 15 anos à época. Mas não para por aí: quase todas as faixas ficaram muito famosas mesmo com o passar do tempo, com direito a várias regravações. Podemos citar “Preta Pretinha”, “Acabou Chorare”, “Mistério do Planeta”, “Besta É Tu”...

Esse álbum foi concebido no período em que eles já não estavam mais morando em Botafogo e sim comunitariamente no sítio “Cantinho do Vovô”, em Vargem Grande. Lá, viviam os músicos com suas famílias, amigos e a equipe da banda. A própria capa do disco mostra como era a vivência deles. O mais engraçado é que, apesar desse estilo, não se consideravam hippies. A paixão pela música e futebol foi a inspiração para o álbum seguinte deles, “Novos Baianos FC”.

Continuaram produtivos nos anos seguintes até encerrarem as atividades no fim dos anos 1970. Dentre os muitos outros sucessos que conheceram, pode-se citar alguns como “Vamos Pro Mundo”, “Caia na Estrada e Perigas Ver” e “Dê um Rolê”. Em 1997, fizeram um reencontro 25 anos após o lançamento de “Acabou Chorare” com o show “Infinito Circular”. Mesmo com a dissolução do grupo, seus membros continuaram engajados musicalmente.


Baby Consuelo, a Baby do Brasil

Apesar de nascida em 18 de julho de 1952 em Niterói, no Rio de Janeiro, ainda jovem Baby se mudou para Salvador onde conheceu seu futuro marido e parceiro, Pepeu Gomes, além de outros integrantes dos Novos Baianos. A artista é notadamente um dos grandes destaques tanto do grupo como em carreira solo, principalmente pela sua capacidade de reinvenção.

Seus primeiros álbuns foram “O Que Vier Eu Traço” (1978) e “Pra Enlouquecer” (1979) e chama bastante atenção a interpretação de chorinhos, daqueles consagrados na voz de Ademilde Fonseca (1921-2012) mesmo antes de iniciar a carreira solo. As duas, inclusive, fazem um dueto no segundo álbum de Baby, interpretando “Apanhei-te Cavaquinho”, de Ernesto Nazareth.

Entretanto, o principal sucesso dela foi em outra faixa desse mesmo disco, com “Menino do Rio”, de Caetano Veloso. Dentre outros destaques na carreira de Baby, podemos citar também “Todo Dia Era Dia de Índio”, “A Menina Dança”, “Telúrica” e “Sem Pecado e Sem Juízo”.

Chama atenção também o visual, com cabelos coloridos e os balangandãs. Essa identidade não se alterou mesmo com a conversão da artista ao cristianismo nos anos 1990. Se denominando popstora (em uma mistura de pop+pastora), chegou a lançar dois álbuns religiosos: “Exclusivo Para Deus” (2000) e “Geração Guerreiros do Apocalipse” (2011). 


Moraes Moreira

Nascido em 8 de julho de 1947, infelizmente foi o primeiro dos Novos Baianos a sair de cena para brilhar em outro plano. Fez muito sucesso tanto no grupo quanto em carreira solo, como instrumentista e também compositor, considerado pela Rolling Stone Brasil o 57º maior artista da cena musical brasileira. 

Junto dos Novos Baianos, foi autor dos maiores sucessos do grupo desde o primeiro álbum. Dentre eles, pode-se citar as canções “De Vera”, “Preta Pretinha”, “Mistério do Planeta”, “A Menina Dança” e diversos outros. Foi um dos primeiros integrantes a seguir carreira solo no meio dos anos 1970 e continuou se destacando com canções como “Pombo Correio” e “Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira”. Outro sucesso absoluto viria na década seguinte com “Festa do Interior”, parceria com Abel Silva que ficou eternizada na voz de Gal Costa.

Moraes é considerado um dos principais responsáveis pelo crescimento do carnaval de rua de Salvador, tendo sido também o primeiro cantor de trio elétrico. Em 1976, estourou nas paradas de sucesso com a canção “Pombo Correio” no trio elétrico de Dodô e Osmar, o que rendeu alguns álbuns.

Sempre na nossa memória musical, os Novos Baianos conquistaram um lugar especial na música brasileira. Quem é que não conhece pelo menos uma música do grupo?


Acesse nosso site e explore tudo o que quiser sobre Baby, Moraes e os outros integrantes do grupo.



Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

Comentários

Divulgue seu lançamento