Música

Vitória Maldonado & Ron Carter lançam CD 'Brasil L.I.K.E'., com 'Versões' de Carlos Rennó

Por Ivonne Cabral

segunda, 06 de fevereiro de 2023

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Vitória Maldonado é perseverante. Há muito tempo essa cantora, compositora e pianista paulista pensava no projeto de gravar standars do jazz, da música brasileira e norte-americana. A proposta foi bem sucedida. Além do rico repertório, ela pode dividir o disco com o arranjador e contrabaixista norte-americano Ron Carter, uma 'lenda viva' do jazz, que procurava uma cantora do Brasil para realizar um projeto semelhante. Assim, nasceu o álbum 'Brasil L.I.K.E.' (Summit Records/2018) que agora ganha novo volume, com mesmo título e o acréscimo da palavra 'Versões'. Traz os mesmos 'clássicos' do jazz, MPB e bossa-nova, composições de Cole Porter, Marks & Simons, Tom Jobim, Gilberto Gil e outros, com a novidade que as músicas ganharam 'versões' e a poesia em português (e inglês) do letrista Carlos Rennó.

Vitória explica o título 'Versões': "Fiquei tão contente com o resultado do que eu e Ron conseguimos na primeira edição, das críticas positivas da imprensa, que achei que podíamos ir um pouco além, e fazer um registro também no meu idioma. Claro que com a poesia e o talento de Rennó".

Além de cantar, Vitória também é a arranjadora no álbum. Ela é formada na escola Berklee (Estados Unidos), como descreve: "Na Berklee tive uma vivência musical grande e foi lá que aprendi a escrever arranjos, que usei em todo o disco. Pedi ao maestro Ruriá Duprat, meu contemporâneo na Berklee, para escrever os arranjos de orquestra. Temos muita afinidade e adoro os arranjos dele!"



Brasil LIKE!

O "L.I.K.E." do título é 'Love, Inspiration, Knowledge e Energy' (amor, inspiração,conhecimento e energia). Ron Carter Quartet, além do próprio Ron, tem Renee Rosnes (piano); Payton Crossley (bateria) e Rolando Matos (percussão). As gravações foram em São Paulo e entre os convidados estão Roberto Menescal, Proveta, Toninho Ferragutti, além de Ruriá Duprat e sua Brazilian Orchestra.

Vitória vem de um meio musical. A mãe tocava piano clássico e violão, o pai gostava de cantar. Começou estudando piano erudito com Marina Brandão e popular com Amilson Godoy e Gogô (Hilton Valente). Foi cursar Berklee (Boston/EUA), onde fez composição e regência. De volta, nos 1980, foi morar no Rio de Janeiro e tocou/cantou com Marisa Monte. Já nessa época desenvolvia seu dom de arranjadora. Ela conta desse período: "Conheci Marisa no Jazzmania. Logo criamos um duo de piano e voz, em que eu também fazia back e arranjos. Tocávamos no Doble Dose, um clube de jazz em Ipanema. O repertório era uma mistura de MPB, jazz e composições minhas, que depois gravei no meu CD "O que está acontecendo comigo" (2011)".

Ron Carter recebeu, com o baterista Jack DeJohnette, em 2022 o Grammy de melhor Álbum Instrumental de Jazz, pelo CD "Skyline". Nasceu em 1935, em Michigan (EUA) e começou a tocar violoncelo aos 10 anos. Quando sua família se mudou para Detroit, passou a ter dificuldades em virtude de estereótipos raciais dos músicos eruditos. Mas persistiu. Começou trabalhando com nomes como Thelonious Monk e Wes Montgomery, e a partir daí não parou mais. Participou do Miles Davis Quintet (1965/1968). É possuidor de estilo próprio e isso fez dele um dos músicos de estúdio mais requisitados. Já esteve inúmeras vezes no Brasil e tocou e gravou com Hermeto Pascoal e Tom Jobim. Tem ainda extenso trabalho com música erudita.


Versões

Vitória conta como conheceu Carlos Rennó: "A primeira vez que ouvi o nome dele foi através de um livro de partituras de suas versões para Cole Porter ("Canções, versões" (ed. Paulicéia/1991). Quando tive a ideia de fazer o disco em português, perguntei para Ruriá Duprat, meu produtor musical, se o conhecia. Entramos em contato e ele aceitou fazer as versões na hora".

Carlos Rennó descreve o projeto como sendo um "prazer e satisfação artística, ter tantas versões reunidas num só CD". Acrescenta ainda: "Vitória canta lindo, conhece o repertório, sabe interpretá-lo e os arranjos têm nível alto. Valeu a parceria e a colaboração artística. As versões são fruto de um grande esforço para traduzir o sentido da letra original, verso a verso. E não só isso, mas os procedimentos estilísticos formais, as rimas, as aliterações, buscando reproduzir tudo nas versões. É muito bom ouvir isso transformado lindamente, em forma de canto por Vitória".

A intenção de Vitória, quando começou o projeto, foi a de rever e celebrar suas influências, tanto da música brasileira como do jazz: “Fazendo os arranjos de base e pensando numa forma tanto de ‘abrasileirar’ o jazz, como de ‘jazzificar’ a bossa. Por exemplo, em "Night and Day", de Cole Porter, há os dois gêneros, jazz e bossa. Ou "All of me", de Marks & Simons, que tem toque de bossa com o violão de Menescal. Já "Common Place (Lugar Comum)", de João Donato e Gilberto Gil, também tem os dois (bossa & jazz)”.

Ainda sobre essa adaptação: "Nem pensei nisso", diz Vitória sobre se foi difícil adaptar o jeito 'americano' ao jeito 'brasileiro' para cantar essas versões. "São versões tão bem feitas que cantei como canto uma canção composta em português. Rennó tem essa característica, transforma numa coisa nossa", finaliza a cantora.



Encaminhado por Tambores Comunicações / Fotos: Divulgação

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