Almanaque do Rock Brasileiro

Voo de coração: a importação do Rock Inglês

quarta, 30 de março de 2022

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O que vem depois do exagero? Pergunto isso, pois os anos 70 foram a década do exagero, pelo menos para o Rock. Glam Rock, Dinossauros do Rock, Rock progressivo todos eles foram exagerados cada um à sua maneira. Mas hoje vamos falar um pouco do Rock Progressivo, um exagero sonoro, que um jovem britânico Richard David Court ou apenas Ritchie, embarcou de cabeça, com direito a contribuições a Emerson Lake Palmer, até a vinda para o Brasil junto com os Mutantes, banda com quem também fez participações em sua fase mais progressiva.

No Brasil também teve colaboração na Barca do Sol, permanecendo por pouco tempo na banda, logo após entrou no Vímana, banda que contou com Lulu Santos, Lobão e Patrick Moraz (ex-Yes).

O Rock Progressivo, tem suas peculiaridades, como temas instrumentais longos, músicos virtuosos cada um com o seu set dentro do show, discos muito bem produzidos fruto de horas dentro do estúdio, que em algumas vezes não se pagavam.

O single era quase que um detalhe (algumas bandas sequer lançavam), pois o disco era uma obra, um conjunto, mas o single muitas vezes é o que leva um álbum, e naquele tempo era vendido separadamente em um compacto, essa moda poderia estar com os dias contados.

Nos anos oitenta tudo se foi pelos ares, Genesis e Yes tomaram um outro caminho, o ASIA foi o fruto do fim de Emerson Lake Palmer com a inclusão de outros integrantes.Todas essas bandas tinham algo em comum, uma música pop bem feita, produzida por pessoas completamente capazes. A viagem musical dos anos 70 deu lugar ao brilho e sucesso dos anos 80.


Prólogo

Este será um prólogo bem rápido, pois o Rock Progressivo no Brasil morreu antes de começar, embora tivessem músicos muito capacitados e gravadoras que poderiam investir no gênero. Eram anos de chumbo e a viagem progressiva não teve muita vez em tempos de repressão. Alguns exemplos podem ser os próprios Mutantes que na sua fase mais progressiva não permaneceram por muito tempo. Moto Perpétuo não passou do primeiro álbum e Guilherme Arantes, um dos integrantes, partiu para outros caminhos. Assim como aconteceu com o próprio Vimana, que não chegou a lançar um único disco porque as gravadoras sabiam que o gênero não traria um bom retorno comercial.

Com o final do grupo, Lulu Santos lançou “Tempos Modernos” de 1982, Lobão entrou na Blitz e participou de “As Aventuras da Blitz”, todos com um imenso sucesso já apontavam o que estava por vir.


Voo de coração: Aquilo que vem depois do exagero

O disco Vôo do Coração”, lançado em 1983, é a representação máxima do pop, embora muitos o coloquem na prateleira do rock. Vale ser colocado no gênero do iê iê iê pelo fenômeno que foi e, principalmente, pela conquista do público jovem. Ritchie que naquele momento já estava na casa dos 30 anos, virou um fenômeno teen.

O álbum vendeu muito bem, mais de dois milhões de cópias mostrando que a onda New Wave e o Pop vinham com tudo. A faixa de abertura “No Olhar”, vem como o “Plantão de Notícias da Globo”, apresentando que algo quente estava por vir, sintetizadores marcantes eram um soar de uma nova geração. A segunda faixa “A Vida Tem Dessas Coisas” tem um quê de forró na marcação da bateria e no canto de Ritchie, mas com um belo arranjo de piano.

Já em "Vôo de Coração”, a cafonice Rock’n Roll se mostrou presente, com a participação de Steve Hackett, ex-guitarrista do Genesis. A faixa tem uma carga muito forte e uma grandeza, uma canção de amor atemporal, fazendo essa trinca ser um início maravilhoso. Mas, em “Menina Veneno”, talvez tenha sido onde os anos 80 de fato nasceram culturalmente, sem menosprezar o que veio antes ou o que viria. A música é uma viagem no tempo onde somos transportados para um período onde tudo ainda estava começando a ser como de fato foi.

O disco em si é uma máquina do tempo para 1983, quando o Rock ainda era um sol nascendo para um dia clarear as mentes de uma nova geração. “Tudo o Que eu Quero (Tranquilo)”, uma pitada de jazz, encerra o disco com mais sofisticação ao pop, uma faixa que merece ser descoberta.

Esse álbum tem como seu principal defeito ser um pouco repetitivo em algumas faixas na sonoridade e até mesmo nos temas abordados, nada que possa incomodar a audição. Afinal, a junção de Lobão na bateria, Lulu Santos nas guitarras, Liminha no Baixo e Ritchie nos teclados e flautas, não poderia sair coisa ruim. Na verdade esta é mais uma prova de que o progressivo poderia sim ser pop sem grandes problemas.


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